Agora, sinto-me como os mercados. Volátil, nervosa e preocupada. Não estou no meio da “tempestade perfeita”, mas tenho experimentado alguns solavancos.
Sei que tudo isto faz parte do dia-a-dia dos temidos e sábios mercados financeiros e que ninguém se pode deixar levar pelo sentimento geral e que se deve olhar para lá do agora e acreditar no longo prazo, porque é assim que, frequentemente, se fazem os bons investimentos.
O hoje é, isso mesmo, minúsculo. Mas, ainda assim, mereço alguma condescendência. A enorme e crescente indefinição e insegurança que existem sobre o arranque da economia europeia e, sobretudo, da portuguesa dão-me direito a certos estados de alma.
Nem o BCE, que tem despejado biliões nas economias da zona euro e se sujeita ao perigoso jogo das taxas de juro negativas, tem conseguido resultados. O dinheiro não tem chegado à economia real, o investimento não arranca, não se cria emprego e o PIB cresce a taxas miseráveis. Pior: a dívida, e não é só a do Estado, continua gigantesca.
Não somos a Austrália, que se dá ao luxo de não saber o que é uma recessão há 25 anos, não temos os gigantes empresariais da Alemanha, mas por que raio andamos, por aqui, a discutir décimas de crescimento.
As últimas previsões do Eurostat apontam para um crescimento na zona euro de 1,6%, no segundo trimestre deste ano, em termos homólogos. A economia portuguesa cresceu entre abril e junho 0,9% na comparação homóloga e 0,3% face ao trimestre anterior. E para 2016, o Banco de Portugal prevê um crescimento de 1,3% e uma estagnação do investimento. Também o FMI já reviu em baixa, várias vezes, as estimativas para Portugal. 1% é a previsão para este ano.
É isto que se passa, no mesmo dia em que os ministros das Finanças se reúnem em Bratislava para decidir sobre o corte dos fundos comunitários para Portugal e Espanha, que não cumpriram as metas do défice. “Não há tempo a perder”, diz o comissário europeu Pierre Moscovici quando questionado sobre a suspensão parcial de fundos estruturais para estes dois países.
Agora, no fim desta coluna, já tenho outros sentimentos, talvez mais brandos e civilizados. Perplexidade e incompreensão. Como é que a Europa ainda não entendeu que, nas atuais circunstâncias, não haverá crescimento nos países endividados sem investimento público e restruturação (chame-se-lhe o que se quiser) de dívida?
Sabe quanto aumentará o investimento do Estado australiano no final deste ano? 15,5%. Calma, não se quer para Portugal mais betão, rotundas ou pavilhões desportivos. Mas antes investimento eficaz e virtuoso, ainda que esforçado, em áreas como a ferrovia, ou a transformação digital.
Não vejo outra solução para convencer o sector privado a investir senão ir atrás do Estado. Não encontro outra saída para a indefinição e o torpor que se espalham pela Europa. Quantas gerações terão de esperar para ter um país onde vivam bem? Ah, já me esquecia, não há nada a fazer porque antes gastámos o que não tínhamos e, por isso, teremos agora de viver assim até pagar tudo, até ao último cêntimo.
Jornalista e diretora do Dinheiro Vivo