Setor do vinho quer chegar aos 1,2 mil milhões de euros de exportações em 2030

A ViniPortugal, no seu plano estratégico 2024-2030, propõe aos associados uma meta ambiciosa para as vendas ao exterior do setor, que deverá ser analisada na próxima assembleia geral da instituição, em março. No ano passado, as exportações recuaram 1,16% e ficaram-se pelos 928 milhões de euros
Setor do vinho quer chegar aos 1,2 mil milhões de euros de exportações em 2030
Reinaldo Rodrigues / Global Imagens
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Depois de seis anos consecutivos a crescer e bater máximos históricos, as exportações de vinhos portugueses caíram 1,16% em 2023 e ficaram-se pelos 928 milhões de euros, aquém dos mil milhões estabelecidos pela ViniPortugal no seu plano estratégico 2019-2022, estendido por mais um ano por causa da pandemia. Mas já há nova meta em análise, a de chegar aos 1,2 mil milhões de euros até 2030, com o preço médio a subir para os 3,19 euros por litro.

Estes números fazem parte da proposta de plano estratégico que a ViniPortugal apresentou aos seus associados em finais do ano passado, mas cuja análise e debate foi adiado para a assembleia geral da instituição que se realizará a 22 de março.

Sobre os números de 2023, o presidente da organização interprofissional que é responsável pela promoção da marca Wines of Portugal, fala numa quebra inferior à esperada, num contexto mundial negativo. No total, Portugal vendeu ao exterior 319,5 milhões de litros no valor de 928 milhões de euros, o que dá um preço médio por litro de 2,90 euros, um cêntimo acima do ano anterior.

“O comércio mundial de vinhos caiu muito em 2023, por razões diversas, desde a inflação ao aumento das taxas de juro e do custo de vida, sem esquecer o efeito das duas guerras e a instabilidade económica com que as famílias viveram, o que levou a que as nossas exportações tenham baixado. Ainda assim, os dados dos nossos concorrentes a nível mundial apontam para quedas muito superiores à nossa, significando que, apesar de tudo, Portugal aumentou a sua quota no mercado mundial de vinhos”, diz Frederico Falcão.

Para este responsável há, no entanto, algumas “leituras positivas” a fazer dos dados do INE, a começar pela performance no Brasil, para onde seguiram quase 26 milhões de litros no valor de 80 milhões de euros, mais 8,91% em volume e 12,58% em valor do que no ano anterior. O preço médio subiu 3,36% para 3,09 euros o litro. “O Brasil correu-nos bastante bem. Ultrapassamos novamente a Argentina e tomamos o segundo lugar nas importações em volume. Num mercado que aumentou cerca de 1% as suas importações, Portugal conseguiu um bom acréscimo, de quase 9%, ao contrário do Chile e Argentina, que baixaram as suas vendas”, frisa.
Sem contabilizar o vinho do Porto, este foi, em 2023, o maior mercado de destino dos vinhos portugueses, acima dos EUA e Reino Unido. Com vinho do Porto, o top 3 é ocupado por França, EUA e Reino Unido, dos quais só este último cresceu no ano passado, mais 4,49% em valor e 6,67% no preço médio, apesar de uma quebra de 2% em volume.

Frederico Falcão destaca ainda, como fatores positivos, a “manutenção da tendência de subida” do preço médio de exportação dos vinhos portugueses e de, descontando o vinho do Porto, as exportações de vinhos nacionais terem ficado “praticamente em linha” com o ano anterior. Foram 620,6 milhões de euros contra os 621 milhões de 2022.

Quanto a 2024, janeiro não terá corrido muito bem e fevereiro parece ir pelo mesmo caminho, mas este responsável espera que as exportações retomem o trajeto ascendente, assente na recuperação de mercados importantes, como os EUA, Canadá e China. Quanto à meta para 2030, remete para a discussão do plano estratégico em março.

Entre os associados da ViniPortugal, as opiniões dividem-se. Para a Associação de Vinhos e Espirituosas de Portugal (ACIBEV), a meta de 1,2 mil milhões até 2030 “é bastante ambiciosa” atendendo ao contexto atual de retração do comércio mundial. “Não é de esperar um crescimento do consumo no mercado interno e há aqui alguns sinais de alterações de comportamentos dos consumidores que podem significar uma quebra do consumo mundial. Neste contexto acho que 1200 milhões é uma boa ambição”, diz o presidente, Jorge Monteiro, que acrescenta: “Não é fácil, mas não é impossível”. 

Quanto ao documento propriamente dito, a ACIBEV está ainda a analisá-lo com os seus associados e só depois fará chegar à ViniPortugal a sua posição. Sem entrar em mais pormenores, Jorge Monteiro admite apenas que os tempos “estão um bocadinho complicados”, com alguns mercados a darem sinais de retração, situação agravada pela “perseguição” que a Organização Mundial de Saúde tem vindo a fazer ao álcool. “O importante é educar os consumidores e educar não é proibir”, considera. 

Já a Associação Nacional dos Comerciantes Exportadores de Vinhos e Bebidas Espirituosas (ANCEVE) não discute a meta definida para 2030, preferindo debruçar-se sobre o plano, encomendado pela ViniPortugal à EY, e que considera que “fica muito aquém” daquilo que o setor necessita.

“Mais do que um estudo parcelar necessitaríamos de um novo estudo Porter [apresentado em 2004], que deu um boost brutal à fileira. O mundo mudou, e continua a mudar, a geopolítica, a economia, o clima, os hábitos dos consumidores, a geografia da distribuição e dos retalhistas e importadores, tudo está sempre a mudar e Portugal devia adaptar-se melhor a esta evolução brutal, inovando”, diz Paulo Amorim.

Para este responsável, os vinhos portugueses “têm hoje, fruto da revolução que se verificou na viticultura e na enologia nos últimos anos, uma qualidade que justifica um preço mais pujante e um valor acrescentado que também remunere os viticultores de uma forma mais generosa”.

Já a Associação Nacional das Denominações de Origem Vitivinícola acredita que o objetivo dos 1200 milhões em 2030 é “um valor plausível”, defendendo que é preciso “explorar outras vias” de promoção. “As grandes feiras são incontornáveis, mas precisamos de, supletivamente, ver o que podemos fazer para nos destacarmos, maximizando as tecnologias digitais”, diz Francisco Toscano Rico.

O presidente da Andovi considera ainda que “é preciso perceber como é que, debaixo deste chapéu da Vinhos de Portugal, se consegue dar mais notoriedade e visibilidade às diversas regiões”.

Sobre 2023, Toscano Rico fala num ano "especialmente difícil", em que a elevada quantidade de stocks, apesar da destilação de crise efetuada - a terceira em quatro anos, lembra - pressionou o setor. "Há uma quebra de consumo no mundo, em especial de vinhos tintos, que não é de agora mas que se está a acentuar e Portugal ressente-se. No mercado nacional, a situação é atenuada pelo turismo, mas a quebra de rendimentos das famílias não ajuda a contrabalançar a estagnação das exportações. Mas isto tem a ver com os volumes que estamos a importar, porque, apesar dos stocks estarem elevados, continuamos a fazer recordes de importação todos os meses e o vinho de mesa nacional está todo a ficar em 'casa' e a ser substituído por vinho espanhol", diz.

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