Setores tradicionais mantêm-se no vermelho

As vendas ao exterior mantêm-se ainda no vermelho para quase todos os setores tradicionais, com exceção do vinho que, mesmo em pandemia, continua a crescer
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METALURGIA
Campeã quer crescer 10%
Nem a campeã das exportações foi poupada em 2020. A metalurgia e metalomecânica exportou 3194 milhões de euros nos primeiros dois meses do ano, menos 2,3% do que no período homólogo.

As exportações para mercados fora da UE tiveram um aumento de 3%, com destaque para o Japão, Austrália, China, Marrocos, África do Sul e Turquia, mas a verdade é que os mercados europeus representam 77,4% das exportações totais. Alemanha, França, Reino Unido e Itália são os principais destinos.

"Uma diferença de 2,3% neste contexto muito difícil - de absentismo, de dificuldades na obtenção de transportes marítimos e de aquisição de alguns componentes -, que compara com dois meses pré-pandemia, é uma excelente notícia", diz o vice-presidente da AIMMAP. Rafael Campos Pereira acrescenta que estes números "vêm reforçar a nossa convicção de que, se não formos muito afetados por surpresas, poderemos fechar o ano a crescer 10%".

CALÇADO
Sapatos com menos 57,2 M€
As exportações de calçado caíram 18% no acumulado de janeiro e fevereiro, para cerca de 261 milhões de euros. São 57,2 milhões a menos do que no período homólogo, meses que haviam sido de crescimento no setor, indiciando o que se esperava fosse um ano de crescimento. Não foi, mas com o consumo de calçado a cair 27% na Europa, também não admira.

"Sentimos que 2021 vai ser, de novo, muito exigente. Aliás, as estimativas apontam para uma ligeira recuperação do consumo mundial de calçado (2,8%), mas apenas atingiremos os valores pré-pandemia em 2023. Os dois próximos anos serão um verdadeiro teste à resiliência das empresas. Para este ano, a partir do 2.º semestre, acreditamos que possa voltar a ser possível alguma recuperação, ainda que ligeira", diz Paulo Gonçalves, diretor de comunicação da APICCAPS.

TÊXTIL
Cai 12% e penaliza o setor
Também o têxtil e vestuário se mantém ainda no vermelho, com uma quebra de 7,7% no acumulado de janeiro e fevereiro, para 823 milhões de euros. Números muito penalizados pela performance do vestuário, cujas vendas ao exterior caíram 11,8%, ficando-se pelos 473 milhões. São menos 63 milhões do que no período homólogo. "A situação ainda está difícil, os clientes começam agora a abrir e a vender alguma coisa, mas continuam com stocks muito elevados", diz César Araújo, da ANIVEC.

Já os têxteis -lar e outros artigos têxteis confecionados, categoria que inclui os produtos de proteção da covid, como as máscaras têxteis, cresceram 4,8% para 127 milhões de euros. "O setor está a duas velocidades. No curto prazo, a situação vai continuar mal, mas temos a expectativa que, no segundo semestre, os números possam já ser positivos", diz, por seu turno, Mário Jorge Machado, da ATP. Tudo dependerá do sucessos da vacinação, reconhecem os dois responsáveis, que sublinham: "Tudo o que menos se quer é que, em outubro, tudo volte a piorar, como aconteceu o ano passado".

CORTIÇA
Exportações perdem terreno
As exportações portuguesas de cortiça cresceram 50% nos últimos 10 anos, chegando a quase 1.064 milhões em 2019. A pandemia levou a uma quebra de 4,75%, gerando uma perda de quase 50 milhões, mas a indústria mantém a meta de chegar aos 1.500 milhões de exportações até 2030.

Para já, o arranque de 2021 não está a ajudar: as exportações de cortiça caíram 1,23% no acumulado de janeiro e fevereiro para pouco mais de 165 mil euros. "Um setor que exporta mais de 95% da sua produção para mais de 130 países, não poderia ficar alheio ao impacto da pandemia. Este é o momento de reforçar o nosso espírito empreendedor e criativo, continuar o percurso de inovação e desenvolvimento, numa fileira que responde, de forma ímpar aqueles que são os modelos de desenvolvimento do futuro: a sustentabilidade e a economia circular", defende João Rui Ferreira, presidente da APCOR.

VINHO
Em alta, setor cresce 2,96%
O vinho parece ser o mais resiliente à pandemia. Cresceu 3,2% em 2020, atingindo novo recorde de vendas ao exterior, nos 846 milhões de euros, mais 27 milhões do que em 2019. E os primeiros dois meses de 2021 confirmam a tendência: as exportações aumentaram 2,96% para 121 milhões de euros. Destaque para o crescimento de 36,64% do Brasil, de 12,09% da Alemanha e de 7,86% do Canadá. Em sentido contrário, os EUA caíram 14,72% e França perdeu 3,93%.

"Vamos prosseguir o caminho da diversificação de mercados, com a convicção que a trajetória de crescimento das exportações terá de continuar com uma postura competitiva no mercado, apostando em saber vender bem, em valorizar a qualidade do nosso produto de modo a conseguirmos aumentar o preço médio", afirma Frederico Falcão, presidente da ViniPortugal.

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