Síndrome do NIH... Not Invented Here

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Na indústria das tecnologias de comunicação e informação, mas também em muitas outras atividades humanas, existe um conhecido síndrome chamado NIH - Not Invented Here ou NIA - Não Inventado Aqui.

Esse síndrome descreve a dificuldade, normalmente grande, em dar crédito ou adoptar soluções já encontradas ou desenvolvidas por outros, na resolução dos nossos problemas ou criação de novos produtos e serviços.

Esta dificuldade está por detrás da igual resistência que temos em cooperar com outros. Gostamos de voltar a “inventar a roda”.

Dir-me-ão que esta dificuldade é típica dos portugueses e já não existe.

Não considero ser típica dos portugueses. A primeira vez que ouvi falar do NIH foi nos EUA no início da década de 90 do século passado. Gerindo um programa de desenvolvimento de equipamento informático inovador, muitas vezes fui confrontado com a resistência dos profissionais da equipa (a maior parte americanos) em adoptar soluções de terceiros e em vez disso decidir que era preciso 'inventar uma solução melhor''.

Normalmente essa decisão de prosseguir caminho próprio significava mais tempo e mais dinheiro gasto no desenvolvimento da solução. E por poucas vezes se conseguia uma solução melhor.

Desde então fui confrontado com situações destas em todos os países onde trabalhei, nos EUA e na Europa. E não só no desenvolvimento de soluções informáticas mas também noutro tipo de atividades profissionais.

O mesmo vi acontecer em Portugal. Por cá a situação normalmente piora já que a nossa capacidade de desenvolver coisas novas é menor do que noutros mercados tendo em conta a menor disponibilidade e acesso a recursos com experiência alargada. E a nossa atitude social, não colaborativa, também não ajuda.

Quanto ao NIH já não existir, creio ser um facto que tem diminuído. Num mundo globalizado e em aceleração inovadora é muito mais eficaz cooperar, ou mesmo coopetir, quando se quer desenvolver novos produtos e serviços. Embora exija esforço e seja contranatura.

No mundo empresarial ligado às TIC encontram-se mais casos de sucesso, quando a cultura de desenvolvimentos de soluções é orientada pela procura da cooperação e parceria com outras entidades empresariais ou académicas.

Pelo contrário, existem casos de insucesso, embora com exceções, de empresas que procuraram inovar a 100% e acabaram por ficar fora do mercado. Por terem demorada tempo, por esgotarem recursos ou ainda por ficarem isoladas na criação de um standard.

Uma solução é normalmente uma soma de pequenos componentes modulares * e muitas deles estão disponíveis de imediato e em algum lado. Quem se propõe desenvolver uma solução nova deve concentrar-se numa área específica (vulgo core) considerando que aí pode acrescentar algo realmente inovador e de diferente. Depois, agregando-lhe componentes já existentes, produz a solução final global que é colocada no mercado. Acelera o desenvolvimento, reduz o custo e pode até contar com a ajuda, na sua promoção, dos autores dos componentes que a integram.

No recente Web Summit de Lisboa ficou patente que existe uma nova mentalidade orientada à cooperação. Pese embora cada inovador “puxasse a brasa à sua sardinha”, parecia estar desperto para encontrar parceiros. Esta atitude, para os inovadores portugueses, faz ainda mais sentido dadas as restrições do mercado nacional.

Creio que a nova geração de empreendedores está mais longe do NIH e mais atenta à Economia Colaborativa. No recente evento de entrega de Prémios “Portugal Digital Awards” senti isso mesmo. Ainda bem.

* Alguns destes componentes, se foram de software, estão hoje em dia na Cloud/Nuvem!

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