Skypro quer faturar 100 milhões em 2026 à boleia da recuperação de uniformes

Vestuário e calçado: A empresa nasceu na aviação, fornecendo a TAP, mas aposta na diversificação e veste já os funcionários da Mystic Cruises e da polícia sueca. Com escritórios no Dubai e EUA, pretende abrir, este ano, em França e na Alemanha. Para crescer espera captar 7 a 9 milhões de investidores.
A Skypro, sediada em Ermesinde (Valongo), triplicou o número de trabalhadores no ano passado.
A Skypro, sediada em Ermesinde (Valongo), triplicou o número de trabalhadores no ano passado.Direitos Reservados
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A Skypro, empresa portuguesa especializada em uniformes, está a lançar um novo serviço de re-uso de peças, com o qual promete aos clientes economias até 60% por peça. Uma aposta na circularidade que disponibiliza uma terceira via, além da “típica abordagem predominante na indústria vestuário de reciclar ou descartar”, permitindo a reutilização da roupa, com “ganhos ambientais significativos, dada a redução de 90% na pegada de carbono”. A expectativa é que, a partir de 2026, todas as peças que venda obedeçam a este modelo de circularidade. “Cada uniforme vendido será um uniforme recolhido para re-uso ou reciclagem”, diz Jorge Pinto, CEO da empresa.

A Skypro nasceu, como o nome indica, como fornecedora da indústria da aviação, inicialmente através do calçado. Jorge Pinto foi, durante anos, um dos franchisados da Aerosoles em Portugal, marca com a qual desenvolveu, em 2008, em parceria com o Centro Tecnológico do Calçado, o “Aerosoles PRO”, o “primeiro sapato do mundo” para a aviação, que não só “não apita nos detetores de metais dos aeroportos, como pode voar de manhã para o Dubai e à tarde para Moscovo, que a temperatura está controlada com peles preparadas para ter durabilidade com um aspeto impecável”. 

O sucesso do foi de tal ordem que, garante, “hoje, se andar pelo aeroporto de Doha [capital do Qatar], não há ninguém, dos aviões às lojas, que não use sapatos made in Portugal”. A TAAG, as linhas aéreas de Angola, e a portuguesa TAP foram das primeiras a calçar estes sapatos, mas a falência da Aerosoles veio criar a necessidade de encontrar fornecedor alternativo, nascendo, então, a marca Skypro. E se já os calçavam, por que não vesti-los também? E, em 2017, com a ajuda do Citeve, foi desenvolvido o projeto do vestuário.

Em 2020, foi incluída pelo Financial Times na lista das mil empresas que mais cresceram na Europa. E se os anos da pandemia não foram os mais fáceis, a recuperação do turismo e da aviação levou a empresa a atingir “vários marcos” em 2023, com vendas recorde de 9 milhões de euros, ao mesmo que triplicou a sua força de trabalho.

Hoje são 30, mas o plano estratégico desenhado prevê que este número mais do que duplique, até 2026, ano em que espera ter 70 pessoas e faturar 100 milhões de euros, à boleia da conquista de novos clientes, mas também da diversificação de áreas de negócio. “Até à pandemia tínhamos todos os ovos [na cesta] da aviação, queríamos ser a Nike dos profissionais da aviação. Depois, foi decidido, estrategicamente, abrir a outros setores”, refere Jorge Pinto. Hoje, fornece já os uniformes da polícia sueca, de empresas de cruzeiros, como a Virgin Voyages ou a Mistic Cruises, e de algumas cadeias hoteleiras, mas quer chegar a outras áreas, como os grandes retalhistas, a indústria ferroviária, ou os museus. O target, “idealmente”, são empresas acima de mil trabalhadores.  

Marco importante na história da Skypro foi o desenvolvimento, em 2018, do sistema de gestão de uniformes myskypro, que, “através de um algoritmo único, ajuda as empresas a gerirem os seus inventários de uniformes, alinhados com a procura e sem desperdício”. Com o qual, garante Jorge Pinto, asseguram poupanças que chegam, em muitos casos, a ser de mais de 30% ao ano: “As empresas, por norma, compram quantidades inaceitáveis de uniformes de que não precisam. Com o nosso sistema, ficam a saber quando e o que comprar. Conhece a curva de procura e os tempos da cadeia de valor, e indica em que momento e em que quantidades devem comprar”. 

Em 2022, e apostada em ser “a empresa mais competente do mundo a gerir uniformes em termos de inovação e sustentabilidade”, a Skypro criou um departamento específico para a área e que é liderado por Ricardo Silva. No ano seguinte surgiu o programa de retoma de uniformes. “A primeira abordagem é sempre a de possibilitar a reutilização das peças, de acordo com critérios de aceitação definidos pelo cliente. As peças não conformes seguem para a reciclagem, que dará origem a novos fios e que serão reintroduzidos no processo de fabrico; as que estão conformes são reparadas, se necessário, e devidamente higienizadas, através de um processo inovador e ecológico”, explica o diretor de Sustentabilidade. 

O programa tem vindo a ser apresentado e a expectativa é que, ainda este ano, três grandes grupos de aviação adiram a ele. Com o tempo, acredita, “todas acabarão por aderir a programas deste tipo, porque todas estão comprometidas com a meta zero emissões, e os uniformes serão uma parte crítica para lá chegarem”, argumenta. Para “dar confiança e credibilidade” aos clientes, a Skypro prepara-se para ser “a primeira PME do calçado e uma das primeiras na têxtil” a publicar, ainda em maio, um relatório de sustentabilidade ambiental, social e corporativa, o chamado ESG.

Também este ano, provavelmente no segundo quadrimestre, a Skypro vai entrar na sua segunda ronda de captação de capital, que visa dotar a empresa da “robustez necessária para continuar a crescer de forma significativa”. Na primeira ronda, em 2016, conseguiu três milhões de euros, através do Fundo Revitalizar Norte, este ano, espera conseguir sete a nove milhões de euros.

Com sede em Ermesinde (Valongo), a Skypro tem escritórios no Dubai, para dar resposta aos muitos clientes que tem na região, como a Air Arabia, Fly Dubai, Qatar Airways e o mais recente reforço, a Emirates, e nos EUA, embora este tenha a sua atividade suspensa desde a pandemia. Ainda em 2024, o objetivo é abrir representações em França e na Alemanha. “Queremos estar muito próximos dos mercados”, refere Jorge Pinto, explicando que a empresa assegura toda a criação e desenvolvimento dos produtos, mas subcontrata a produção em Portugal, mas também em Marrocos, na Índia ou na China, desenhando as cadeias de valor “em função de barreiras alfandegárias e da pegada ambiental”. 

“Temos sempre muito gosto em privilegiar a produção nacional até ao limite do preço que permita ganhar o negócio”, sustenta o empresário. Por outro lado, e porque, a partir de 2025, a empresa vai “não só medir a sua pegada ambiental com grande rigor, como irá faturar aos clientes o vestuário e o serviço que presta, mas também a pegada ambiental de tudo o que entregar”, Jorge Pinto acredita que isso irá criar espaço para que mais produtos sejam fabricados em Portugal.

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