A estrutura de custos das empresas está a sofrer um forte impacto devido ao aumento da inflação e à subida das taxas de juro, dois dos efeitos económicos mais severos da guerra na Ucrânia. Ainda afetadas pelas disrupções causadas pela pandemia nas cadeias globais de produção e logística, as empresas debatem-se agora com agravamentos quase diários dos preços da energia e matérias-primas, que fazem perigar a sua sustentabilidade financeira.
Em Portugal, muitas empresas trabalham com margens de lucro estreitas e não conseguem fazer repercutir no consumidor o aumento continuado dos custos. Por outro lado, nos setores industriais mais expostos à subida dos preços do gás, não há em muitos casos capacidade para reduzir os consumos ou explorar outras fontes energéticas. O resultado deste agravamento exponencial da estrutura de custos é, naturalmente, a perda de competitividade e um maior endividamento das empresas. O espectro dos despedimentos, dos lay-offs, do incumprimento de compromissos financeiros e das falências regressa assim ao país.
Neste cenário de instabilidade e incerteza, é preciso encontrar soluções para ajudar as empresas a gerirem o crescimento dos custos. A nível fiscal, por exemplo, podem ser introduzidas novas isenções que baixem o custo da energia e de matérias-primas essenciais ou tão-só acelerar os reembolsos do IVA às empresas. Devem ainda ser estudados incentivos que favoreçam a racionalização do uso do gás ou a transição para consumos híbridos (gás e hidrogénio, por exemplo) ou para outras fontes energéticas, como o biometano. Importa também reforçar as linhas de crédito e os apoios a fundo perdido destinados aos setores mais penalizados pela crise energética, como as indústrias transformadoras.
Mas todo este conjunto de incentivos tem de assentar numa plataforma flexível e eficiente, capaz por isso de fazer chegar os apoios à economia de forma célere, simples e consequente. Como já aqui salientei em diferentes ocasiões, de pouco vale desenhar um pacote de apoios de emergência se depois não existir uma estrutura que, de facto, garanta às empresas processos simplificados e acesso rápido aos incentivos.
Durante a pandemia foi possível suavizar os impactos sobre as empresas e, consequentemente, preservar a produção e o emprego. Agora, é fundamental um novo esforço para defender o tecido empresarial português do agravamento dos custos, como está a ser feito nas principais economias europeias.
Alexandre Meireles, presidente da Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE)