Provisões feitas para acautelar efeitos da pandemia da Covid-19 na operação levaram a Sonae ao negativo no primeiro trimestre. O grupo dono do Continente e da Worten fechou março com prejuízos de 59 milhões de euros, quando há um ano registava nos primeiros três meses do ano lucros de 18 milhões. As receitas do grupo subiram 7,1%, para 1.552 milhões de euros.
Nos resultados do grupo há um antes e um depois da pandemia do novo coronavírus. "O início do ano foi muito positivo para a Sonae, com todos os nossos negócios a apresentarem fortes níveis de crescimento e a melhorarem os seus níveis de rentabilidade até fevereiro, demonstrando uma vez mais a solidez das nossas estratégias e propostas de valor. No final de fevereiro, a Sonae Sierra concluiu a transação Prime, um marco muito importante na sua estratégia de reciclagem de capital, que fortaleceu ainda mais a estrutura de capitais da Sonae. Em março, a pandemia Covid-19 atingiu as nossas principais geografias e começámos a viver um desafio sem precedentes", destaca Cláudia Azevedo, CEO da Soane, citada em comunicado.
"Os próximos meses serão duros e todos os nossos negócios serão, de uma forma ou outra, materialmente impactados. Neste sentido, e por razões de prudência, registámos já no primeiro trimestre um conjunto significativo de contingências non cash, no sentido de antecipar futuros impactos, nomeadamente na NOS, Sonae Fashion, Worten e Sonae Sierra. Além disso, nesta fase todos os nossos negócios estão a implementar iniciativas de preservação de recursos financeiros, não deixando de cumprir compromissos anteriormente assumidos e sem perder de vista oportunidades de investimento atrativas", refere a CEO do grupo.
"Implementámos soluções de proteção para as nossas pessoas que estão na linha da frente e trabalho remoto para todas as funções de escritório. Mas, apesar de todas as medidas de segurança, algumas das nossas pessoas foram naturalmente atingidas por este vírus. Uma vez mais, seguimos rigorosamente todas as recomendações da Direção Geral de Saúde de forma a que todos tenham o melhor acompanhamento possível, ao mesmo tempo que minimizamos a possibilidade de contágio. Este é um acompanhamento diário, permanente, e assim continuará a ser até estarmos livres desta pandemia", refere ainda a responsável.
Com muitas lojas com operação fechadas pela pandemia, sem vendas de stock, o grupo fez "provisões extraordinárias para stocks, tanto na Worten como na Sonae Fashion, diretamente relacionadas com o surto de Covid-19", de um total de 44 milhões para stock no trimestre. Foram ainda feitas provisões no "montante de 18 milhões de euros relacionadas com projetos de desenvolvimento da Sonae Sierra – uma vez mais em resultado de uma visão prudente do potencial impacto da atual pandemia nos projetos em curso".
Assim, apesar do crescimento das receitas as contingências non cash de 76 milhões de euros relacionadas com a pandemia, o grupo registou prejuízos de 59 milhões de euros, excluindo esses impactos, "e apesar do encerramento forçado de algumas operações, o resultado líquido da Sonae estaria em linha com o ano anterior."
As receitas cresceram no trimestre 7,1%, impulsionado sobretudo pelo forte contributo da Sonae MC (+14% em termos homólogos), com o EBITDA consolidado a recuar 4,6%, para 128 milhões, "uma vez que o impacto do menor resultado pelo método de equivalência patrimonial superou o impacto positivo da mais-valia resultante da transação Prime da Sonae Sierra." No trimestre, o grupo registou a "desconsolidação de dois centros comerciais (consequência da transação Prime) nas contas estatutárias da Sonae Sierra".
Dívida recua 468 milhões
No trimestre o grupo reduziu em 468 milhões a dívida, ou seja, 27,5%, para 1.233 milhões de euros. "As condições de financiamento da Sonae continuaram a ser caracterizadas por um baixo custo de dívida, que se situou em 1,2% durante o primeiro trimestre de 2020 (1,0% excluindo a Sonae Sierra), e um perfil de maturidade média de cerca de 4 anos. Adicionalmente, desde o final de 2019, a Sonae já refinanciou cerca de 500 milhões em empréstimos de longo prazo", destaca a Sonae.
Investimento de 60 milhões no trimestre
Nos primeiros três meses a Sonae investiu 60 milhões de euros, dos quais 46 milhões na Sonae MC, área onde o grupo diz ter criado mais de 2 mil postos de trabalho no retalho alimentar nos últimos 12 meses.
"Em todas as empresas do grupo totalmente controladas pela Sonae em Portugal, optou-se por não recorrer ao mecanismo de lay-off simplificado como forma de assegurar o rendimento integral dos colaboradores neste difícil contexto e de cumprir com a missão social da empresa", refere o grupo.
"No caso do retalho alimentar foi concedido um prémio monetário extraordinário aos colaboradores das lojas e entrepostos, como forma de reconhecimento pela sua disponibilidade para a prestação de um serviço essencial às famílias portuguesas", diz ainda.
Sonae MC: receitas sobem 14%
A área de retalho do grupo fechou março com 1.194 milhões de euros de receitas, mais 14% face ao ano passado, com um crescimento LfL de 10,6%. Mas o desempenho da área, que agrega insígnias como o Continente ou a Well's, foi igualmente impactada pela pandemia.
"Após um bom começo de ano, com um forte desempenho das vendas em janeiro e fevereiro, a primeira quinzena de março registou níveis de crescimento sem precedentes. Neste período, os formatos de retalho alimentar registaram crescimentos de vendas LfL (like for like) de dois dígitos, com o canal online a atingir níveis extraordinários de encomendas que levaram a Sonae MC a triplicar a sua capacidade de entrega", refere o grupo.
Situação que se alterou com a declaração do Estado de Emergência e a limitação de acesso ao espaços. "Uma vez implementadas as medidas de confinamento, a 15 de março, com uma restrição de apenas quatro clientes por cada 100 m2 nas lojas, as vendas de retalho alimentar regressaram a níveis LfL mais normais. Alguns dos formatos não alimentares foram considerados serviços não essenciais e, por isso, foram forçados a suspender o seu funcionamento, nomeadamente as cafetarias Bagga, os restaurantes Go Natural, a Dr. Wells em Portugal e as lojas da Arenal em Espanha", diz o grupo.
O EBITDA subjacente da Sonae MC atingiu os 96,5 milhões de euros, representando uma margem estável de 8,1%. "O crescimento das vendas foi acompanhado pelo aumento dos custos operacionais relacionados com a Covid-19, nomeadamente com novas medidas de higiene e segurança, o prémio pago aos colaboradores para recompensar o trabalho excecional na linha da frente, um mix de vendas diferente (devido a um cabaz de compras com mais produtos básicos e a um desvio do consumo de categorias discricionárias e não alimentares), e a suspensão forçada dos formatos não alimentares", destaca a Sonae.
Worten regista "máximos históricos" no online
Até ao final de fevereiro a Worten registou um crescimento de 6% nas vendas, mas em março o cenário "alterou-se significativamente".
Mas, se em Portugal, todas as lojas permaneceram abertas, à exceção da Worten Mobile e das iServices localizadas em centros comerciais, em Espanha "todas as lojas do continente foram encerradas, apesar de continuarem a suportar a operação online, enquanto que nas Ilhas Canárias apenas seis lojas foram suspensas, duas das quais foram adaptadas de forma a satisfazerem encomendas online."
Nos dois mercados, o online apresentou um "crescimento muito significativo, registando máximos históricos." Globalmente, no trimestre a Worten registou vendas de 232 milhões, praticamente em linha com o ano passado. "O EBITDA subjacente situou-se acima do ano passado, com a margem a aumentar em 0,1 pp para 3,5%."
Sonae Fashion: fecho de lojas leva a quebra de 49% das vendas em março
Na sequência da implementação das medidas de confinamento em todos os países em que a Sonae Fashion opera, "nas duas primeiras semanas de março as vendas caíram acentuadamente e, em seguida, todas as lojas foram forçadas a fechar", levando a uma queda de 49% vendas em março em relação ao ano passado,
Parte deste impacto foi compensado por um desempenho "muito positivo do canal online", tendo a unidade de negócio fechado com receitas de 78 milhões, uma queda de 19% face ao ano passado, e com um EBITDA subjacente de 0,9 milhões.
Atualmente, a Sonae Fashion está já abriu algumas das suas lojas e está a preparar a reabertura das restantes.
Centros comerciais com 46 milhões de receitas
Até ao final de fevereiro, a área de centros comercias, a Sonae Sierra, teve um desempenho "notável", diz o grupo, referindo a criação da joint-venture Sierra Prime (com a Allianz, APG e Elo) e um crescimento do número de visitantes (5%) e vendas (7,1%), mas março já foi em parte impactado pela pandemia.
"O volume de negócios foi de 46 milhões, sendo que, numa base contabilística proporcional, o resultado líquido da Sonae Sierra foi positivamente impactado por um resultado indireto superior face ao ano passado, beneficiando sobretudo da mais-valia resultante da transação Prime, parcialmente compensada pela provisão para projetos em desenvolvimento, uma vez que a crise da Covid-19 aumentou a incerteza na atividade de desenvolvimento."
A ISRG com contributo positivo de 2,6 milhões para os resultados da Sonae, tendo a Sonae FS obtido um volume de negócios de 9,4 milhões de euros (+14,4%) e com o EBITDA subjacente a fixar-se em 2,1 milhões com uma margem de 22,4%. Já a Sonae IM gerou volume de negócios de 26 milhões.