S&P. Portugueses aguentam mais 2000 milhões de euros em juros, se tiver de ser

Em 2020, sob a total proteção do BCE, Portugal pagou 5,8 mil milhões de euros em juros aos credores. Se as taxas subirem para 3%, por exemplo, vai pagar quase 7,8 mil milhões daqui a dois anos, mas a agência de ratings não antecipa logo grandes dificuldades.
Publicado a

Se as taxas de juro da República aumentarem dos atuais mínimos próximos de 0% para 1% ou 3%, os contribuintes portugueses e as contas públicas devem aguentar o embate, acredita a Standard & Poor's (S&P).

Num novo estudo sobre quais os soberanos mais preparados para enfrentar um ciclo de subidas de taxas, que poderá ocorrer nos próximos anos (até 2023, o horizonte da análise da agência de ratings), os analistas assinalam que Portugal, Estados Unidos e Japão são os países com as contas mais expostas a esse evento pois têm dos maiores fardos de dívida pública do mundo.

No entanto, consideram que os portugueses vão conseguir aguentar o esforço exigido por um aumento grande nas taxas de juro da República, que virá acompanhado de um encargo adicional de dois mil milhões de euros por ano no serviço da dívida (juros).

Esta rubrica tem impacto direto na despesa do Orçamento do Estado porque vai ao saldo orçamental público (ou ao défice, se for esse o caso). Um aumento grande pode ascender a três pontos percentuais na taxa de juro, para cerca de 3%, segundo os pressupostos da S&P.

Em 2020, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), Portugal pagou aos credores quase 5,8 mil milhões de euros em juros da dívida, o equivalente a 2,9% do produto interno bruto (PIB) anual.

O estudo coordenado por Frank Gill, o analista que também segue Portugal, diz que o tal choque grande pode elevar a fatura para 3,3% do PIB em 2023. De acordo com cálculos do Dinheiro Vivo, isso fará aumentar a referida despesa para quase 7,8 mil milhões de euros, mais dois mil milhões de euros, portanto face ao nível de 2020.

A S&P mostra-se relativamente tranquila, mesmo neste cenário.

"A boa notícia é que, graças à expansão dos balanços dos bancos centrais, os soberanos entram neste período incerto com custos de financiamento notavelmente baixos."

Assim, para "a grande maioria dos soberanos desenvolvidos", um aumento de 100 pontos base nas taxas de refinanciamento "não representa qualquer choque para as finanças públicas, pelo menos no início".

"Apenas três pagariam mais de 1% do PIB em juros até 2024", comparando com o cenário atual. São eles "Japão, EUA e Portugal". Este seria o cenário mais suave.

Se a subida de taxas for mais rápida ou agressiva, a pressão aumenta, claro, mas seria comportável, segundo a S&P.

"Embora o custo do serviço da dívida o serviço aumente no caso do choque dos 300 pontos base, ele essencialmente recuaria aos níveis de 2018 e, portanto, num contexto de recuperação do crescimento, não criaria quaisquer pressões orçamentais indesejadas", refere o estudo.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt