Startup portuguesa quer reduzir desperdício de água com fibra ótica

A FiberSight nasceu em 2021, fruto do doutoramento de Tiago Neves, para utilizar a tecnologia na deteção de fugas e no controlo de sistemas de rega. Hoje venceu os eAwards Portugal 2024.
Tiago Neves, CEO da FiberSight. Foto: D.R.
Tiago Neves, CEO da FiberSight. Foto: D.R.
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O caminho de construção de um doutoramento é, em si mesmo, um desafio de larga escala, mas que para Tiago Neves foi um acontecimento essencial para o que viria a ser a FiberSight. Na verdade, depois de alcançado o sucesso académico, o investigador decidiu apostar no empreendedorismo e preencher uma lacuna de mercado que identificou. Foi durante o doutoramento que percebeu “que a tecnologia que estava a desenvolver poderia ter grande interesse e aplicabilidade”, nomeadamente em aplicações relacionadas com a deteção de água.

Tiago Neves, depois de voltar do projeto académico na Suíça, em 2021, fundou a startup que hoje disponibiliza soluções com impacto ambiental nos setores da agricultura e do abastecimento de água. “O objetivo era desenvolver uma tecnologia capaz de medir a temperatura e a humidade em milhares de pontos simultaneamente, ao longo de quilómetros de extensão”, recorda.

Através de fundos e projetos europeus, entre 2021 e 2023 foi tempo de avançar com o desenvolvimento do protótipo e concretizar validações no terreno “importantes”. Foi daí que saiu aquele que é hoje um produto inovador: a utilização de fibras óticas, como as que levam a internet até casa, para detetar a presença de água. A explicação do CEO detalha que é possível “detetar fugas em tempo real com uma precisão de um metro”, uma ferramenta importante para a gestão sustentável dos recursos.

É precisamente aí que a FiberSight está a apostar. “Podemos ter um papel importante no combate às fugas de água, que em Portugal representam cerca de 30% da água injetada na rede pública”, recorda Tiago Neves. Este é um mercado em que a empresa já tem presença, estando atualmente a colocar “cerca de 700 metros de fibra numa instalação de distribuição de água em Portugal”, mas também com outro projeto, de cerca de 200 metros de fibra, no Jardim Botânico de Lecce, em Itália.

Os ganhos, garante, são evidentes. Em contexto agrícola, a otimização da rega é acompanhada de um processo de inteligência que permite “poupar entre 10% e 20% do consumo de água”. Numa altura em que a sustentabilidade é eixo central na economia, diminuir o consumo de recursos naturais é um poderoso argumento comercial da startup. “É possível identificar, árvore a árvore ou planta a planta, quais precisam de águas”, explica o empreendedor, que fala com o Dinheiro Vivo entre o Dubai e Lisboa.

Foi ali, nos Emirados Árabes Unidos, que a FiberSight acabou de integrar o top 20 de uma das maiores competições de pitches do mundo, a Supernova Challenge, enfrentando mais de mil empresas. Já em território nacional, a startup instalada no Instituto Pedro Nunes, em Coimbra, foi anunciada na passada esta segunda-feira como vencedora dos eAwards Portugal 2024, no âmbito de uma iniciativa da Unicorn Factory Lisboa com apoio da NTT Data.

“É mais um sinal de confiança de que estamos a fazer as coisas bem. O apoio financeiro é importante para nos permitir encarar o final do ano com alguma tranquilidade”, aponta Tiago Neves, que vence 10 mil euros e fica habilitado a vencer 100 mil na competição internacional que se segue.

Financiamento para crescer

Prémios como este acabado de atribuir, a par com a participação em projetos europeus, têm sido o principal alimento para o investimento no negócio. Por outro lado, a startup concluiu uma primeira ronda de financiamento com apoio da Portugal Ventures, que “investiu na FiberSight e ajudou a impulsionar os pilotos e possíveis vendas que estavam em stand-by”.

Tudo isto tem permitido fazer avançar o projeto que, assegura o fundador, está a registar avanços significativos este ano, com aumento da equipa e a validação da tecnologia em várias aplicações. “A nível de financiamento, como em qualquer startup a dar os primeiros passos, é grande”, reconhece o CEO. Porém, a empresa tem neste momento “algumas propostas em cima da mesa” para uma segunda ronda de investimento, o que “permitirá crescer ainda mais e expandir para outros mercados internacionais”.

O foco, não há dúvida, está na colocação da tecnologia ao serviço das empresas e do ambiente, onde pode ter impacto real. Para Tiago Neves, é fundamental que a “sociedade fique mais consciente” dos desafios na gestão da água, uma missão para a qual acredita poder contribuir com inovação de ADN português.

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