O surf contribuiu para aumentar o número de alojamentos turísticos e escolas da modalidade, mas a pressão turística trouxe problemas ambientais, concluiu um estudo sobre o impacto dos primeiros 10 anos da Reserva Mundial de Surf da Ericeira, divulgado esta quinta-feira..O número de alojamentos turísticos no concelho de Mafra, no distrito de Lisboa, passou de seis, em 2011, ano em que a Ericeira foi consagrada Reserva Mundial de Surf (RMS), para 45, em 2020, e o número de camas turísticas aumentou de 619 para 1.864, segundo o estudo, a que a agência Lusa teve acesso..Com o aumento da procura, as dormidas aumentaram 86.636 para 263.258, sendo que a maioria dos turistas optaram pelo hostel e gastou menos de mil euros com a sua permanência na Ericeira..Entre 2011 e 2021, as empresas de animação turística tiveram também um crescimento de oito para 69, o mesmo aconteceu com as escolas de 'surf' licenciadas na Ericeira (de 11 para 45)..O número de surfistas federados no concelho de Mafra triplicou (passaram de 106, em 2015, para 363, em 2021)..Seguindo a tendência dos últimos Censos, o estudo aponta para um crescimento populacional de 12,83% no concelho, com mais 10 mil habitantes..Apesar de o surf ser considerado fator determinante para residir na Ericeira para 37,4% dos inquiridos, não foi a razão para aí morar, mas antes o facto de se viver perto da natureza e do mar (90,1%), concluiu o estudo..O crescimento económico que o surf trouxe, com o aumento do número de turistas, aumentou a pressão urbanística e o tráfego e a RMS "não teve um reflexo positivo na qualidade de vida dos residentes", uma vez que os espaços verdes não aumentaram à proporção, nem contribuiu para o aumento do emprego ou do poder de compra dos residentes..Dos inquiridos, 56% afirmou mesmo que o turismo existente não tem melhorado a qualidade do surf, nem da própria reserva, e 60% considerou mesmo que os turistas não contribuem para o desenvolvimento de uma comunidade sustentável..Mais de metade dos inquiridos foi da opinião que a atividade das escolas de surf nas praias não é sustentável e não respeita o espaço dos outros banhistas, e que a comunidade surfista não adota comportamentos "respeitosos e protetores em relação às praias e demais banhistas"..No plano ambiental, as praias passaram a ter mais qualidade, mas as medidas de proteção "não são consideradas suficientes"..O estudo salienta que a inexistência do termo "reserva de surf" na legislação e documentos de gestão territorial portugueses dificulta a concretização dos objetivos da RMS em matéria de proteção ambiental..O estudo foi encomendado pelo Ericeira Surf Clube para analisar o impacto do surf e das atividades associadas a esse desporto em termos económicos, sociais e ambientais e foi hoje divulgado, durante a cerimónia de encerramento da comemoração dos primeiros 10 anos da RMS.