Os principais armadores mundiais já começaram a cortar escalas e a pandemia segue a travar o comércio internacional. Ainda assim, os portos nacionais ainda somaram até março. Apesar de quebras em Lisboa, Setúbal e Sines, o país registava no primeiro trimestre, mais 14 serviços que no mesmo período do ano passado. Na carga global deverá haver descida, mas os principais portos apontam sinais positivos no horizonte. Os meses de março e abril podem ajudar a melhorar.
No primeiro trimestre, os principais portos serviram 2152 navios, revela a Associação dos Agentes de Navegação de Portugal (AGEPOR). A subida é ligeira, de 0,65%, no grupo que inclui Leixões, Lisboa, Sines, Setúbal, Aveiro, Figueira da Foz e Viana do Castelo.
Mas o serviço já está a abrandar. Em janeiro, as escalas estavam a crescer 4,2%, nos dados da Autoridade da Mobilidade e dos Transportes. A situação pode piorar em breve, já que na última semana contavam-se 160 partidas canceladas em portos de todo o mundo, com 212 serviços apagados dos mapas do transporte marítimo, segundo a Sea Intelligence. A consultora diz que as linhas internacionais estão a preferir agora travar navios a baixar mais as tarifas do transporte.
Em Portugal há ainda os fatores domésticos a limitar cargas e descargas. Se a indústria exportadora trava, no caso do Porto de Lisboa conta também o impasse entre trabalhadores e empresas de estiva. Embora o todo nacional ainda tenha acolhido mais navios, Lisboa, Setúbal e Sines perderam em conjunto 69 serviços até março - 55 dos quais nos terminais da capital.
O Porto de Lisboa, principal ponto de movimento de produtos agrícolas, calcula para o primeiro trimestre ter menos 20% na carga movimentada, mas assegura que não é efeito da pandemia. Está “relacionada com as questões laborais que são do conhecimento público”, aponta. Ainda assim, garante que desde a declaração do estado de emergência não têm falhado os serviços às ilhas bem como a importação de cereais.
Os números totais do primeiro trimestre ainda não estão fechados, mas a Associação de Portos de Portugal estima uma perda de carga conjunta de 6%. Em janeiro, o movimento descia 10%. Só Sines, levava um corte de 25% na carga de contentores.
Chegado aqui, o maior porto nacional ainda está no vermelho, mas já observa “sinais de recuperação” na carga dos contentores. São sinais “reforçados nos primeiros dias de abril”, quando “foram ultrapassados os volumes de movimentação do período homólogo de 2019”. No gás natural e granéis líquidos há subidas de 20% até março.
Já Leixões, o segundo porto nacional, valia em janeiro quase um quarto da tonelagem nacional e continuou a crescer. “Apesar do expectável abrandamento da atividade económica, continuam a verificar-se os habituais fluxos de mercadorias de exportação e importação, não existindo uma quebra na movimentação de carga”, diz a Administração do Porto de Leixões. Segundo esta, “no melhor dia da última semana de março, quando o país cumpria já os primeiros 15 dias do estado de emergência, foram operados sete navios e descarregados ou carregados mais de 1800 contentores”. Nessa semana, Leixões serviu 30 navios e movimentou mais de 10.500 contentores.
Setúbal também diz estar a recuperar em números de março, depois de ter estado a perder cerca de 18% da carga em janeiro. A administração do porto indica que o movimento de mercadoria subia 1% no mês passado, ao mesmo tempo que a carga em contentor crescia 14%. É, diz, um indicador “muito positivo” a contrariar maus resultados nos primeiros dois meses do ano.