Tenho dito

Comecei a escrever no Dinheiro Vivo em Junho de 2011 e termino este Junho. Desviei-me do assunto que aqui me trouxe, que era o marketing, a publicidade e as artes da comunicação. Tentei, mas não tenho assunto, e por isso desatei a falar de outras coisas que não são daqui, deste espaço dedicado aos negócios, às empresas e à boa disposição da comunicação comercial.
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Durante algum tempo, sempre com a ideia de falar sobre o que se passa nesta nossa casa portuguesa, tentei falar sobre os rasgos criativos, as ideias novas e empolgantes e as pessoas que melhoram a paisagem mediática criando comunicação talentosa; e tentei dizer bem do que se faz. Mas não fui capaz. Dizer mal é mais fácil porque quase tudo é muito mau ou indiferente, e dizer mal não é bom; faz mal a quem o diz. Por isso desisto. Vou falar de outras coisas para outro lado. E termino como comecei porque as preocupações de então são as mesmas de sempre.

O primeiro texto que aqui escrevi foi sobre esta tendência nossa, tão periférica, de copiar tudo o que os outros fazem. Chamava-se "Os admiradores e os produtores" e dizia, resumidamente, que Portugal tem muitos dos primeiros e poucos dos segundos.

Os admiradores são os que admiram a obra alheia, e que veneram o que se faz naquele lugar que, com veneração, chamam "lá fora". E a veneração fá-los fazer igual, como se o sentimento de admiração que os enche, e a intensidade da experiência estética, os fizesse acólitos e evangelizadores do alheio.

Os produtores de ideias e soluções originais são poucos. Também eles admiram a obra alheia, mas o que dela tiram é a técnica; e a admiração vira aprendizagem, ensinamento sobre como fazer, e não sobre o que fazer - que é, normalmente, o que se faz "lá fora".

"Lá fora" é uma expressão que não aguento. É expressão de uma maldição que corrói o espírito criativo e que ensombra todos os sectores da sociedade, da produção artística aos que daí mais distam, porque o espírito criativo não é da arte, é da vida, e é a ela que faz falta.

É raro ver neste país um gesto original, seja político, empresarial, social ou artístico. O país copia e, como o termo é feio, os nossos gestores copiaram a expressão "bench marking". É assim que o mais genial empreendedor é o que melhor e mais depressa copia a última coisa feita lá fora.

E quem perde é o país. Um país que escolhe a imitação é um país pobre em originalidade e apenas rico em problemas cujas soluções não encontrará porque o espírito criativo, o único capaz de as encontrar, definhou fatalmente.

A independência nacional depende da originalidade. Se nada de original dermos ao mundo, nele não teremos utilidade como nação. Seremos irrelevantes.

Tenho dito. Muitas vezes. Mas para quê?

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