Quis o destino que, por mero acaso, coincidissem na mesma semana a inauguração do campus da Universidade de Coimbra na Figueira da Foz e a divulgação pública do relatório da OCDE sobre o ensino superior nacional que - entre outras medidas que me escuso a comentar - propõe o aumento de vagas nas instituições de áreas mais densamente povoadas (regiões de Lisboa e Porto) e a consequente diminuição nas restantes.
Essa coincidência temporal de dois assuntos tão antagónicos - de um lado, a expansão territorial da mais antiga universidade do país, com a ambição de servir de motor de desenvolvimento para uma vasta região; do outro, o perpetuar da visão de um país a duas velocidades, onde apenas parecem pesar os interesses e as populações de Lisboa e Porto - fez-me voltar a pensar como precisamos urgentemente de uma mudança de paradigma e de mentalidades, para promover a verdadeira coesão nacional.
É na existência de territórios de inovação que acredito estar a resposta para muitos dos problemas reconhecidos e resultantes do duopólio das áreas metropolitanas "eucalipto", que tudo centralizam e pouco espaço deixam para o crescimento harmonioso do resto do país. Territórios de inovação que refutem a lógica de escritórios e dormitórios, promovendo desenvolvimento, a coesão e a sustentabilidade nas mais variadas vertentes (respondendo às necessidades das pessoas dentro dos limites disponibilizados pela natureza).
Esses territórios têm de estar ancorados em instituições de ensino fortes e capazes de produzir conhecimento. É bom ter sempre presente que uma instituição de ensino superior só ensina o que sabe (para isso tem de fazer investigação). E só transfere para a sociedade o que investiga. Portanto, precisa de estar bem presente no território, para dar resposta aos problemas da região.
É este o modelo de desenvolvimento que preconizo para a região de Coimbra: a promoção de uma região metropolitana inovadora e sustentável, que a Comunidade Intermunicipal poderá e saberá liderar. E para a Universidade de Coimbra: uma instituição global, aberta aos quatro cantos do mundo (em particular aos países da Lusofonia), mas bem presente em toda a região centro do país (atualmente, de Alcobaça à Sertã, passando por Cantanhede e Figueira da Foz). Acredito que - mesmo com características e escalas diferentes - é uma visão que pode e deve ser replicada, do Algarve a Trás-os-Montes, porque não temos de nos resignar perante a miopia de quem entende que devemos ter um Portugal a duas velocidades.