Tesouros Submersos. Envelhecer vinhos nas profundezas do mar português

No vasto e misterioso fundo do mar, onde a luz solar mal penetra, vai surgir uma adega inovadora. Neste espaço subaquático, os vinhos maturam em recifes artificiais, unindo sustentabilidade e técnicas modernas de produção. Dmytro Maslov, responsável pelo projeto "Mermaid’s Cellar", está a dar vida à ideia.
Tesouros Submersos. Envelhecer vinhos nas profundezas do mar português
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Imagine uma adega no fundo do mar, onde os vinhos aproveitam um ambiente único, beneficiando de temperatura estável e pressão constante. A prática já não é nova e durante o seu doutoramento, Dmytro Maslov inspirou-se na Croácia, onde descobriu que já existia um negócio que utilizava ânforas submersas para o envelhecimento de vinho. Assim, decidiu utilizar o fundo do mar português para o seu projeto, a que chamou Mermaid´s Cellar (a adega da sereia).

Embora várias empresas no mundo já envelheçam vinho debaixo de água, nenhuma havia aplicado essa técnica a recifes artificiais e é aqui que Dmytro Maslov pretende fazer a diferença, combinando tradição e tecnologia de maneira inovadora.

O processo de envelhecimento do vinho sob a água envolve armazená-lo em garrafas posicionadas horizontalmente a profundidades superiores a 30 metros. Neste ambiente, a temperatura constante de cerca de 15 graus Celsius e a pressão oferecem condições ideais para o vinho amadurecer. As garrafas devem permanecer submersas durante, pelo menos, seis meses para que o vinho desenvolva as suas características. “A teoria diz que os taninos, a parte envelhecida dos vinhos tintos, diminuem bastante. Assim, o vinho sai bastante mais suave e leve. Em termos de brancos, abrem mais parte mineral e mais parte acídica e escondem mais a parte floral, mais frutuosa”, detalha o mentor do projeto. A escolha de Portugal para a Mermaid’s Cellar é clara.

Dmytro Maslov destaca como as águas costeiras oferecem condições ideais para o envelhecimento do vinho, salientando que a escuridão natural proporcionada pelas profundezas é fundamental para preservar a integridade aromática e o sabor ao longo do tempo. “Em baixo de água está sempre muito escuro”, afirma, sublinhando que isso impede a oxidação que pode ocorrer em ambientes mais expostos.

Além de preservar a qualidade do vinho, o método submarino representa um avanço significativo em práticas sustentáveis. Dmytro Maslov explica que, “no nosso caso, vamos usar pedras vulcânicas, porque o agregado vulcânico é bastante leve e cria cavidades, sendo um material natural e de baixo custo”. A meta é instalar mil recifes ao redor do mundo.

A Mermaid’s Cellar conta ainda com a contribuição de uma especialista em sustentabilidade, que garantirá que “não há toxinas e que tudo vem de fontes responsáveis”. “É muito importante fazer de maneira adequada e com respeito por toda a natureza”, lembra Dmytro Maslov. O empreendedor lamenta que Portugal, com a sua vasta zona costeira, seja “tão pouco utilizado”. E, considera “estranho” que um país tão pequeno tenha uma enorme área marítima subaproveitada, afirmando que “vale a pena pôr alguma indústria deste estilo em baixo de água, porque em cima de água provocaria vários problemas sociais e económicos”.

No entanto, implementar este método não é isento de desafios. O mentor da Mermaid’s Cellar aponta que o principal obstáculo é logístico, desde a criação dos recifes artificiais até à operação de colocação e retirada das garrafas submersas. Além disso, a empresa deve operar em conformidade legal e obter autorização para utilizar o espaço marítimo.

Sobre a segurança dos vinhos submersos, Dmytro Maslov explica que o difícil acesso e a vigilância por satélite são medidas eficazes para proteger as garrafas. Ele enfatiza que a complexidade de remoção das garrafas ancoradas como recifes desencoraja possíveis infratores.

Embora o projeto piloto ainda esteja no estágio inicial, Dmytro Maslov antevê um futuro ambicioso para a Mermaid’s Cellar, com planos para expandir-se e tornar-se a principal empresa de envelhecimento de vinhos aquáticos em Portugal e na Península Ibérica. Participar no Climate LaunchPad (um concurso internacional de ideias para negócios verdes), e receber uma menção honrosa foi, para Dmytro Maslov, um passo importante: "Significa que algumas pessoas ficaram interessadas no nosso projeto, que acreditamos ter um impacto ambiental e comercial significativo", conclui.

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