The Coffee. Um café global, assente na simplicidade e na qualidade

Portugal serviu de base para a expansão europeia da marca, criada por três irmãos brasileiros inspirados pela cultura japonesa de experienciar um café de qualidade superior.
The Coffee. Um café global, assente na simplicidade e na qualidade
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No Japão, o café é mais do que uma bebida – é uma experiência cultural bastante enraizada. Pequenos cafés, cada um com a sua personalidade, preenchem quase todos os bairros. Em alguns, o café é servido diretamente à janela, enquanto noutros o espaço reduzido convida a uma pausa junto ao balcão, a olhar para o movimento lá fora, ou a desfrutar de uns minutos numa discreta explanada. Foi isto que inspirou três irmãos brasileiros – Alexandre, Carlos e Luis Fertonani –, a importarem para o Brasil o conceito destes pequenos espaços, criando a marca The Coffee, que está também em Portugal – países irmãos que partilham a paixão pelo café.

“Quando achámos que seria interessante trazer esse modelo de cafeterias pequenas para o Brasil, a ideia era instruir as pessoas que tínhamos um café de qualidade nesse modelo to-go”, explica ao Dinheiro Vivo o CEO e cofundador, Carlos Fertonani. As duas primeiras lojas abriram em Curitiba, e uma terceira em São Paulo, e só cabia mesmo o barista e pouco mais no interior. O investimento da marca de franchising direcionou-se logo para um café de qualidade superior, que os clientes pudessem apreciar.

Quando os irmãos viajaram para o Japão, em 2017, Carlos trabalhava na área tecnológica. Já tinha tido outras startups. Um dos irmãos é designer e publicitário, e o outro dedica-se à expansão comercial. Foi a combinação destas competências que permitiu juntarem-se neste negócio, em março de 2018, que já atraiu três rondas de investimento no valor total de 11,7 milhões de euros.

O café que servem, explica o CEO, está muito focado na “terceira onda” – a primeira “surge nos anos 1950, com café muito torrado, de baixa qualidade”; a segunda remonta aos anos 1980, muito “marcado pelo surgimento de redes como o Starbucks e a ideia de consumo associada a um certo lifestyle”; e a terceira, já mais recente, do início dos anos 2000, em que se “privilegia a qualidade do café e um consumo mais purista, com pouco açúcar”.

“Quando se fala de café de qualidade, uma das coisas mais importantes é ter uma torra fresca”, prossegue Carlos Fertonani a explicação. Depois de torrado, o café é servido no máximo em até dois meses.

Para garantir a excelência dos produtos fora do Brasil, o processo de torrefação dos cafés na Europa, com grãos cultivados em Minas Gerais e Espírito Santo, é realizado em Portugal, país que serve de base à internacionalização europeia e onde Carlos vive metade do ano – a sua mulher acabou por se mudar para cá. “Por causa da proximidade cultural e da língua, achámos que Portugal seria também uma boa porta de entrada para a Europa.” Como explica o CEO, a

partir de cá entraram em Espanha, Áustria, França, Itália. Mas nem todas as lojas são franchisings da marca: os três sócios são donos de dez espaços no Brasil e de um em Lisboa, na avenida da República.

“O nosso modelo principal de escalabilidade continua a ser a franquia, mas começamos a ter também algumas lojas próprias”, explica o CEO da The Coffee, que já conta com mais de 80 trabalhadores, excluindo os colaboradores dos cafés (que serão mais de 1500), a esmagadora maioria dos quais está na sede em Curitiba. “Pretendemos ter um pouco mais de lojas próprias no futuro, à medida que vamos capitalizando, tendo acesso a crédito bancário.”

Com uma faturação total de mais de 24 milhões de euros em 2024, o negócio cresceu na ordem dos 50 a 60%, o mesmo que estimam que venha a acontecer este ano. Além dos royals que os franchisados pagam, o café consumido em todas as lojas é fornecido pela marca, tal como o marketing dos copos e de embalagens. Até o sistema informático lhes pertence. O que não é vendido por eles, é entregue por fornecedores certificados.

“Investimos esses 12 milhões de dólares captados em algumas lojas próprias, nas torrefações, um pouco da equipa. E hoje a gente está no break even – a gente não está mais queimando dinheiro”, conta Carlos Fertonani, numa conversa por Zoom, a partir de Curitiba. “Hoje, a gente não está a investir mais na expansão, não precisamos mais, porque a expansão vem através das franquias. É um crescimento orgânico hoje”, conclui. Já são quase 200 lojas no Brasil e ultrapassa as 80 no exterior, em 20 países – 36 lojas na Europa, com 14 em Portugal, e várias outras para abrir no México, Peru, Chile, Emirados Árabes, Malásia, Porto Rico, Canadá, onde operam com master franquiados, que são quem gere sub-franquias nos seus países. “No caso do Brasil e Europa é a gente que toca a operação. Agora em outros territórios a gente está escolhendo entregar, vamos dizer assim, para um master franqueado operar. Senão a gente não teria braço para tocar todas as operações”, explica, com plena pronuncia brasileira.

Com perto de 280 lojas espalhadas pelo mundo e planos de expansão que incluem novos mercados na América Latina, Ásia e América do Norte, a The Coffee mostra que o modelo inspirado no Japão encontrou terreno fértil em diferentes culturas. Carlos Fertonani reconhece, no entanto, que há ainda espaço para crescer, tanto no Brasil como em Portugal, onde o café de baixa qualidade domina os hábitos de consumo. Enquanto o café é servido em milhares de copos personalizados, a marca mantém-se fiel à ideia que os inspirou em 2017: transformar a pausa para o café numa experiência global, assente na simplicidade e na qualidade.

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