"Tiro ao Rui (Moreira)" é um desporto para vários plumitivos de matriz centralista. Ultimamente, houve quem o apodasse de antipatriótico, por ter sugerido que deveria ser Lisboa a pagar o custo, dificilmente justificável, de manter a TAP, uma posição já antiga, e bem fundamentada, que ganhou atualidade acrescida com o anúncio da cessação de mais um conjunto de rotas diretas, com origem no Porto. A justificação é a habitual: são deficitárias. Supondo custos invariantes, o prejuízo resultará de uma combinação de preços baixos e insuficiente ocupação. Quanto a esta última, aumentaria se a TAP fizesse com o Porto o que faz com Lisboa: propor voos com escala no "Sá Carneiro" aos passageiros com origem na capital. Afinal não é uma empresa pública? Ou há portugueses de primeira e segunda? Quanto ao preço, este tem uma componente monetária e uma outra imaterial. Tempo é dinheiro. Perante um voo direto que me consome 3 horas e, um outro, que exige 7, valorizo mais o primeiro, estou disposto a pagar mais. Em vez de abandonar o Porto, a TAP podia propor preços mais altos. Não o faz porque sabe que apareceriam outras companhias, com ofertas mais competitivas, pondo a nu a sua ineficiência. É na atração dessas alternativas que a Região deve trabalhar, dando, por uma vez, razão à TAP: o Norte não é um mercado viável, para ela. E temos de a pagar?
Uma outra crítica tem como alvo a posição do Porto sobre a transferência de competências para os municípios. É peculiar a conceção de descentralização do governo central: uma espécie de subcontratação forçada a preços mais baixos, uma nova forma de reduzir o défice. Um abuso: é óbvio que as competências devem ser acompanhadas da dotação atual. Olhemos, contudo, a questão pela positiva: mesmo sendo duvidoso que o município seja a base territorial certa para essas transferências, se estes conseguirem um ganho de eficiência (ainda que não aquele que o governo pretende impor), é uma boa base para começar a desmontar a argumentação dos centralistas quanto ao custo da regionalização. Voltarei ao tema.
Alberto Castro, economista e professor universitário