A Têxtil Manuel Gonçalves (TMG), um dos maiores fabricantes europeus de tecidos e malhas, e que tem como clientes griffes como Carolina Herrera ou Balenciaga, está a investir no segmento da confeção, para dar resposta à necessidade crescente de desenvolvimento de coleções cápsula para as grandes marcas. Uma área de negócio em que já estava presente na área da confeção de malhas, recentemente transferida de Ponte de Lima para a sede da empresa, em Vale S. Cosme, Vila Nova de Famalicão, mas que foi reforçada com a incorporação da estrutura de recursos humanos da Delcon, unidade de outwear do falido grupo Ricon.
A TMG não comprou as máquinas de costura e outros equipamentos da Delcon, ficou, apenas, com os 60 trabalhadores da empresa, dos quais 40 são costureiras e os restantes administrativos e comerciais. “Estamos a crescer ativamente nesta área porque temos clientes estratégicos a querer que a TMG seja parceira no seu sourcing. Desenhamos as coleções completas e tratamos de toda a produção”, diz Rita Ribeiro, business manager da TMG Textiles, explicando que a nova unidade, a TMG Lab, tem uma capacidade para confecionar 200 peças ao dia. “O objetivo é vender valor acrescentado e não minutos”, frisa.
Fundada em 1937, a TMG começou por ser uma unidade totalmente vertical, mas acabou por eliminar a fiação, passando a importar toda a sua base de fios, e por criar parcerias estratégicas na área da tinturaria, iniciando o seu processo produtivo a partir da tecelagem. Tudo em nome da competitividade e da rentabilidade do negócio. “Focamo-nos no que melhor sabemos fazer e que é o negócio mais sustentado, que são os tecidos e as malhas. Se não o fizéssemos iríamos acabar por matar o têxtil”, defende Rita Ribeiro.
A responsável da TMG Textiles admite que o sector atravessa um momento complicado, falando num “cerco às margens” das empresas. “O mercado não está fácil, além da alteração das formas de consumo há, também, uma indefinição do cliente sobre o que há-de por nas lojas. Mas isto representa uma oportunidade muito boa para Portugal porque significa que as compras são feitas cada vez mais tarde e em séries mais pequenas e Portugal tem aqui uma luz que pode ser muito interessante, temos é de nos redimensionar”, afirma, argumentando que “o grande desafio [das empresas] é “como fazer mais com menos”.
O investimento crescente em tecnologia é uma das soluções, até para colmatar a falta de recursos humanos na indústria. “A têxtil está envelhecida a nível de recursos humanos. É um negócio duro, de muito trabalho, o parente pobre, tem que haver muita rapidez, muita eficiência senão não dá dinheiro”, garante. Daí a aposta na confeção: “Temos de potenciar a venda do tecido acabado, aquilo que é o nosso foco, através das peças confecionadas. A TMG LAB serve para as coleções cápsula, produções muito pequenas que só vão para lojas específicas e estratégicas, mas que potenciam a venda do tecido para os grandes volumes”. Além disso, a empresa conta com uma rede de mais de 50 parceiros aos quais recorre, também, para a subcontratação no segmento de confeção.
Nos últimos cinco anos, a área têxtil investiu mais de 10 milhões de euros, designadamente em teares (mais de 40), criando linhas de tecelagem distintas para dar resposta a encomendas de volume e a pequenas séries, de maior valor acrescentado, bem como em máquinas de costura. Mas nos mesmos cinco anos, a empresa duplicou o volume de negócios e triplicou o número de postos de trabalho. Fatura hoje 40 milhões de euros e dá emprego 600 pessoas, embora continue a reforçar os seus quadros. Está a recrutar técnicos de debuxo e engenheiros têxteis e industriais. No total do grupo, incluindo a TMG Automotive, são 1300 trabalhadores e as vendas ascendem a 160 milhões de euros.
O negócio dos tecidos assegura 80% das vendas têxteis e as malhas os restantes 20%. Quase tudo o que produz é para exportação, com a Europa e os Estados Unidos a assegurar 80% das vendas externas. Carolina Herrera, Balenciaga, Hugo Boss, Ralph Lauren e Massimo Dutti são alguns dos seus clientes. “Estamos numa fase de consolidação. Queremos crescer mais numa relação de intimidade e profundidade com os clientes que temos do que propriamente encontrar novos”, frisa Rita Ribeiro. A empresa esteve a semana passada na Première Vision, em Paris, a mostrar as suas propostas para o outono/inverno de 2019, quer ao nível dos tecidos quer com peças de outwear (parkas, blusões, casacos, etc) desenhadas e produzidas by TMG.