A Toyota Caetano Portugal tem duas caras para lidar com o presente e o futuro do mercado automóvel. Nos veículos híbridos, critica o governo pelo fim dos benefícios a estes automóveis que contribuem para diminuir as emissões. Nos veículos a hidrogénio, o mesmo governo merece os elogios do braço português do construtor japonês há mais de 50 anos..Enquanto se divide nestes "volantes", a Toyota Caetano antecipa para este ano uma recuperação de 17% no mercado automóvel nacional. Ou seja, depois dos 176 992 veículos matriculados em 2020, o mercado poderá ter mais de 205 mil unidades registadas neste ano.."As vacinas vão ser um sucesso e isso vai ter repercussões no mercado. Assim como o turismo caiu de forma abrupta por causa da covid, assim que não haja esse risco, as pessoas ficarão muito ansiosas para viajar e o turismo vai crescer. O segundo semestre vai ser melhor do que o primeiro", antecipa ao Dinheiro Vivo o líder da Toyota Caetano, José Ramos..Mas o gestor vive dias de inquietação por acumular a liderança daquele grupo automóvel com a presidência da associação ACAP, que representa as marcas..Com o Orçamento do Estado para este ano, os híbridos só têm desconto no ISV, imposto pago na compra de um veículo, se apresentarem uma autonomia em modo elétrico superior a 50 quilómetros e emissões oficiais abaixo dos 50 gramas de dióxido de carbono por quilómetro (CO2/km). Algo impossível de medir nos híbridos sem ficha de carregamento e que os leva a pagar a totalidade do imposto; até então, tinham um desconto de 40%. Os híbridos plug-in que não cumprirem essa regra também deixam de beneficiar de uma redução de 75%.."Empregamos mais de 100 mil pessoas [na indústria automóvel]. Estou muito preocupado porque pode haver alguma redução de postos de trabalho. Vamos lutar para que estas medidas sejam revertidas", garante José Ramos..O Orçamento também mexe nas taxas de tributação autónoma aplicadas aos híbridos plug-in. Os veículos que não cumprirem a regra 50/50 passam a contar com as taxas aplicadas aos restantes automóveis (excluindo os elétricos): 10% para carros inferiores a 27 500 euros; 27,5% para unidades entre 27 500 e 35 mil euros; 35% para automóveis acima dos 35 mil euros. Quem cumprir a regra, continua a beneficiar de taxas de 5%, 10% e 17,5%, respetivamente..Embora as propostas tenham sido apresentadas pelo PAN, as críticas vão para os socialistas. "Não critico o PAN, porque tem menos possibilidades de ter especialistas técnicos do que o PS e o próprio governo, que deviam ter tido o cuidado de ouvir as marcas. O que o PS e o governo fizeram foi acabar com os incentivos e atirar o ónus para o PAN", lamenta..Nos últimos dias, os socialistas propuseram a proibição da venda de carros a combustíveis fósseis a partir de 2035, no quadro da nova lei do clima. "É uma incongruência. O futuro está nos híbridos e acredito que vamos convencer o Parlamento a recuar" na proposta para acabar com os benefícios a estes automóveis..Apesar disso, José Ramos acredita que os portugueses não vão comprar menos carros deste tipo. "Vai haver um desvio para os motores a gasóleo e a gasolina. Há marcas que vão crescer mais porque ainda têm muita oferta" em combustíveis fósseis. A Toyota é uma das que mais sofrem com a medida porque os híbridos do catálogo não são plug-in, perdendo desconto no ISV..Por exemplo, nos utilitários, o modelo Yaris híbrido passou a pagar 1948 euros de imposto em vez de 1169 euros, um agravamento de 66,6%. Apesar de emitir 88 gramas de CO2/km, os 1500 centímetros cúbicos de cilindrada levam a versão mais amiga do ambiente do Yaris a pagar mais 1680 euros de ISV do que a versão a gasolina, com 128 gramas CO2/km.."Não há dúvidas de que os clientes gostam dos híbridos mas, confrontados com uma situação de agravamento de impostos, escolhem os veículos a gasolina e a gasóleo", lamenta o líder da Toyota Caetano. A empresa, ainda assim, vai continuar a pôr à venda as versões híbridas: "Os clientes é que mandam.".Noutro "volante" está a aposta do grupo industrial no hidrogénio, que merece o "aplauso" de José Ramos. Em meados de dezembro, a Toyota Caetano Portugal passou a deter 61,94% da CaetanoBus, a fabricante de carroçarias e de autocarros que pertencia à Salvador Caetano Indústria..A operação teve influência da fabricante nipónica, que tem 27% das ações da Toyota Caetano. "A Toyota ficou muito impressionada com o desenvolvimento dos autocarros elétricos e a hidrogénio da CaetanoBus." Com veículos em circulação em países como Espanha, Alemanha, Reino Unido e França, o negócio vai dar dimensão mundial à empresa que fabrica pesados em Ovar e Vila Nova de Gaia.."A Toyota vai contribuir para a expansão da CaetanoBus em outros mercados internacionais, até fora da Europa. Também estamos com uma estratégia de vendermos o chassis no estrangeiro, em mercados como o brasileiro", antevê José Ramos..Apesar de ter fabricado dezenas de autocarros elétricos no ano passado, a CaetanoBus está cada vez mais virada para o hidrogénio. Durante este ano, vai instalar o primeiro posto de abastecimento para este combustível em Portugal, junto à fábrica de Ovar. Foi necessário, para isso, investir um milhão de euros na compra das peças..Até agora, a empresa tem de ir a Espanha buscar tanques de hidrogénio para poder fazer os primeiros testes em solo português. Nesta tecnologia, a empresa já investiu 9 milhões de euros e prepara-se para injetar outros 7 milhões neste projeto..Os autocarros a hidrogénio também poderão começar a ser utilizados nos aeroportos ingleses, contribuindo para uma redução mais rápida das emissões nestas infraestruturas..Apesar dos elogios, José Ramos espera ainda que o governo crie "linhas de abastecimento do hidrogénio, para evitar o que se passou com a rede de carregamento de automóveis elétricos", que esteve cerca de uma década em projeto-piloto, sob alçada da Mobi.E..Só quando houver uma rede de abastecimento de hidrogénio é que poderão chegar automóveis como o Toyota Mirai, movido a pilha de combustível, que apenas emite água pura e que conta com perto de 500 quilómetros de autonomia na sua segunda geração..Em meados de dezembro, a Toyota Caetano Portugal passou ainda a deter 49% da empresa de aluguer e comércio de automóveis Finlog, que também era totalmente controlada pelo grupo Salvador Caetano. Com a Finlog, a Toyota Caetano pretende aproveitar todo o conhecimento desta empresa para lançar serviços de aluguer de veículos elétricos..Ainda a funcionar, mantém-se a fábrica de automóveis da Toyota em Ovar, que comemora 50 anos de atividade em 2021. Atualmente, dedica-se à produção da série 70 do jipe Land Cruiser, destinado ao mercado sul-africano. "Montamos entre dez e doze unidades por dia e temos tido as encomendas estáveis em ano de pandemia.".Este esforço já foi reconhecido pelo grupo japonês, que deu o prémio "Nunca desistir" a esta fábrica nacional. Nunca desistir também será o lema da Toyota Caetano para este ano, apesar das curvas apertadas criadas pelo Orçamento do Estado.