Empresas fechadas, profissionais impedidos de exercer, ou mercados muito sensíveis às flutuações de procura levaram os portugueses a reconsiderar alternativas de remuneração para fazer frente à crise económica instalada. A pandemia obrigou, efetivamente, a uma reorganização de diversos setores do mercado de trabalho. Para muitos, as plataformas digitais foram a solução.
Esta transformação foi mais visível nas grandes cidades, com um fluxo vertiginoso de prestadores de serviços nas plataformas de entrega de refeições e de transporte passageiros. Estes trabalhadores estão, no entanto, associados a condições precárias e de baixos rendimentos, não podendo usufruir da autonomia dos profissionais por conta própria (não só a nível da fixação do preço que praticam, mas também da independência na execução do seu trabalho), nem das proteções e garantias de um contrato de trabalho da economia tradicional. Mas além deste setor, onde os olhos dos governos europeus têm recaído, existem outros grupos, de profissionais qualificados e de especialistas em trabalhos informais, que encontram nesta transição digital novas oportunidades de consolidar a sua atividade.
As profissões de eletricista ou canalizador estão, neste momento, entre os serviços mais solicitados no país, onde a oferta está, ainda, muito aquém da procura. Estes profissionais podem cobrar cerca de €70 por um serviço, e isso traduz um valor que permite uma gestão confortável de rendimento e do tempo despendido na sua atividade, menos dependente da regulação laboral.
Muitos desempregados recorreram ainda à criatividade para gerar novas formas de rendimento. Passeadores de cães, explicadores ou novos negócios de catering: a pandemia impulsionou especialistas nas mais diversas atividades a verem nestas uma solução. Todos estes profissionais por conta própria têm em comum a necessidade de afirmação da sua atividade e aproximação a um público mais isolado, mas mais presente que nunca no espaço público digital.
Aplicações focadas no impulso do setor terciário têm-se afirmado e estão empenhadas em encurtar a distância entre todos estes profissionais liberais e os seus clientes. Esta urgência verifica-se principalmente em zonas do país onde a transição digital é mais lenta, não só pelas características demográficas próprias da população, mas também por fatores relacionados com a oferta tecnológica e com as infraestruturas de comunicações. Este esforço é absolutamente fundamental para revitalizar e apoiar este setor chave da economia portuguesa.
Miguel Mascarenhas, CEO da Fixando