Trump, o dia seguinte

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Donald Trump está de regresso aos comandos da maior economia a potência mundial, os Estados Unidos. A configuração final de um senado e do congresso com maiorias republicanas poderá levar a que um notável número das políticas da campanha do presidente eleito deverá implementada. Tendo isto em consideração, muito da agenda presidencial económica assentará bastante na redução de impostos ao rendimento, maior protecionismo no comércio internacional, diminuição do compromisso com neutralidade de carbono. A nível geopolítico, muito pode mudar também, se tivermos em consideração o que foi já a experiência do primeiro mandato do atual presidente.

Combate sem quartel em termos comerciais com a China, promoção do final rápido dos conflitos militares na Ucrânia e no Médio Oriente, e uma reconfiguração da relação transatlântica com a União Europeia - com impacto possível a nível comercial, político e militar. E claro está, no controlo da imigração.
Se for implementado, provavelmente até poderá será um pouco diferente do que foi discutido durante a campanha, mas dada a dimensão da vitória política, a realidade poderá não ser muito diferente.

Os impostos e a diminuição da carga fiscal são uma das principais verticais da agenda presidencial. Donald Trump deverá manter a taxa de imposto sobre os lucros das empresas em 21%, de acordo com a reforma TCJA (Tax Cuts and Jobs Act) de 2017, e propõe ainda reduções adicionais de impostos condicionais para 15%. Esta é uma medida que poderá beneficiar essencialmente as empresas de menor dimensão, expostas essencialmente ao mercado norte-americano, que obtêm a maior parte ou totalidade das suas receitas no mercado interno e local, uma medida muito consistente com a agenda mais protecionista e de recuperação da economia interna.

Uma segunda vertical, será efetivamente a imposição de maiores tarifas e taxas aduaneiras às importações. Durante a campanha, enquanto candidato, Donald Trump defendeu que a imposição de uma tarifa universal de 10% a 20% sobre as importações de todo o mundo, e uma tarifa de 60% sobre mercadorias provenientes da China. Uma medida mais protecionista, mas que não é isenta de polémica, sobretudo pelo impacto que pode desencadear sobre o poder de compra e na estabilidade dos preços e das taxas de juro. Ou seja, estes níveis de tarifas poderiam acabar por representar um imposto, de facto, ao consumo sobre as famílias dos EUA, o que contrariaria o crescimento. Com o tempo, o investimento doméstico aumentaria para aproximar a produção de casa, mas este seria um processo a longo prazo. Noutra frente, este efeito poderá aumentar a inflação e constituir um obstáculo ao crescimento, afetando potencialmente aliás, a atual trajetória da Reserva Federal, que é de descida de taxas de juro.

Por fim, combates estruturais como a neutralidade de carbono, e que conduziram durante muito tempo a agenda do Ocidente, podem perder muito do relevo atual - como aliás também já tinha acontecido na sequência das eleições europeias. O controlo da imigração, a redução das despesas com a defesa e de compromissos com estruturas de defesa internacional (como é o caso da NATO) prometem uma América mais centrada em si, e menos no Mundo, o que só por si deixa antever uma mudança geopolítica e económica da atual ordem mundial.

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