A fronteira que separa a Ucrânia da Polónia é uma fina linha de esperança para os refugiados que procuram segurança no país vizinho. Em duas semanas, 1,7 milhões de ucranianos chegaram à Polónia fugidos do conflito armado com a Rússia, de acordo com os números atualizados esta semana pelas autoridades polacas.
A Polónia é o país que mais ucranianos recebeu e é a principal casa de quem procura abrigo da guerra. A proximidade com a zona de conflito tem pesado na fatura a pagar e o turismo tem sido um dos setores afetados.
"O preço que a Polónia está a pagar neste momento, no que diz respeito ao turismo, é o abrandamento das reservas", explica ao Dinheiro Vivo Agata Witoslawska, diretora do Turismo da Polónia para Espanha e Portugal.
As intenções de viajar para a Polónia abrandaram. O turismo local tem sido uma peça fulcral na engrenagem da ajuda polaca aos ucranianos que ali chegam.
Num relato publicado esta quinta-feira pelo The New York Times, lê-se que os hotéis são as novas casas temporárias dos ucranianos, as salas de conferências das unidades hoteleiras transformam-se em salas de jogos para crianças e as empresas de transfers apoiam com transporte e, nalguns casos, oferecem visitas pela cidade aos recém-chegados para que possam conhecer o novo lugar onde vão morar.
"Os polacos têm feito um bom trabalho. Estou orgulhosa de recebermos os refugiados de braços abertos", elogia a responsável.
O turismo está a andar a um ritmo mais lento mas não parou. Agata Witoslawska garante que para os "que não mudaram de ideias" em visitar o país, têm ao dispor todas as infraestruturas a operar normalmente como restaurantes, hotéis e atrações turísticas.
Captar o mercado português
Os planos de promoção do país não caíram por terra. Na próxima semana o Turismo da Polónia marcará presença na Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL), entre 16 e 20 de março, juntamente com cinco empresas turísticas que aterram na capital portuguesa para apresentar o potencial que as várias cidades polacas têm para oferecer.
"O conflito apanhou-nos de surpresa, infelizmente. Quando começámos a preparar a nossa ida à BTL as perspetivas eram diferentes. Ainda assim, não pensámos em cancelar a nossa presença. Todos os expositores vão viajar para Lisboa com novas ofertas e uma nova abordagem. Temos de pensar que isto é um investimento num futuro muito próximo, esperemos", assegura a responsável.
A visita da comitiva polaca tem como objetivo deitar o isco ao mercado nacional. Em 2019, cerca de 70 mil portugueses visitaram a Polónia, uma pequena fatia dentro dos 16 milhões de turistas estrangeiros que o país recebeu nesse ano mas, ainda assim, um número que tem vindo a aumentar a cada ano.
"Em 2019 o número de turistas portugueses na Polónia cresceu. Houve boas ligações aéreas bem como a oportunidade de fazer programas à medida que previam não só a visita às cidades mais conhecidas como Cracóvia e Varsóvia, mas também a outros destinos muito populares entre os estudantes portugueses de Erasmus", detalha a diretora.
A porta-voz deslinda que o turismo religioso é um dos maiores atrativos para os portugueses quando visitam a Polónia e são os roteiros relacionados com o papa João Paulo II, nascido na Polónia, os mais solicitados. Mas o perfil do turista português está a mudar.
"Desde o grande sucesso que os investidores portugueses tiveram na Polónia, como o banco Millennium ou a Jerónimo Martins, que, aos poucos, a Polónia tem sido considerada digna de visita por outros prismas, principalmente pela história e cultura",acrescenta.
Agata Witoslawska espera ainda que as ligações aéreas entre os dois países retomem, rapidamente, os níveis pré-pandemia. "A TAP está prestes a retomar as frequências pré-pandemia e esperemos que a situação atual não influencie estes planos. Em 2019 as low-cost tiveram ofertas interessantes a partir de Lisboa, Porto e Faro para Varsóvia e Cracóvia bem como para outras cidades. Atualmente, a oferta de voos ainda não está ao nível de 2019".