Medidas feitas em cima do joelho e que não permitiram à hotelaria e restauração prepararem-se. O fim de semana foi "complexo" para estes agentes económicos que passaram a ter de pedir o certificado digital aos clientes. Governo reconhece alguns "incómodos", mas admite alargar as atividades às quais os certificados podem dar acesso..O governo decidiu na semana passada que os restaurantes em concelhos de risco elevado ou muito elevado teriam de passar a exigir, o certificado digital ou teste negativo à covid-19 para refeições no interior, desde as sextas-feiras (a partir das 19h) até ao final de domingo. Além disso, nos alojamentos turísticos em todo o País, e em todos os dias da semana, é necessário apresentar este comprovativo de vacinação, ou de teste negativo à covid-19 ou de imunidade..A vice-presidente da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP) admite que a medida terá como efeitos imediatos uma "maior segurança e confiança", mas não deixa de lado as críticas. "Anunciado numa quinta, publicado numa sexta e entrada em vigor num sábado. O tempo para a entrada em vigor foi muito curto para preparar a logística, a operação, as equipas e o cliente para o que se pode vir a passar. Esta crítica ao timing é mais pertinente porque era evitável. Prolongava-se o estado de calamidade como estava e mais uma semana daria para haver maior disponibilidade de stock quer nas farmácias e hotéis [de testes por exemplo] e preparar a logística" na hotelaria, diz Cristina Siza Vieira. "Foi mais uma questão de timing muito curto que criou stress nas equipas e nos hotéis, e até nos clientes", acrescenta. A Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP) também não poupa críticas aos prazos delineados para a implementação das medidas. Ana Jacinto, secretária-geral, é clara ao sublinhar que "é muito importante que estes setores possam trabalhar", até porque a fatura que a pandemia tem passado a estas atividades económicas está a ser muito elevada. Mas "é evidente que tivemos medidas em cima do joelho uma vez mais. As medidas foram anunciadas na quinta-feira, a resolução do Conselho de Ministros só foi publicada na tarde de sexta-feira. As perguntas e respostas que fomos colocando, só apareceram no sábado, já as medidas estavam em vigor. Tudo isto foi sem tempo para as empresas se prepararem. E medidas desta natureza são difíceis de implementar", assume a responsável. Por isso, descreve este último fim de semana como "complexo" para a restauração em Portugal, "com os estabelecimentos com esplanadas a funcionar melhor; os que não tinham esplanada e os espaços interiores pouco ou nada funcionaram"..Mais atividades Pedro Siza Vieira, ministro da Economia, admitiu ontem que as medidas foram "apresentadas em cima da hora" e que gerou "algum incomodo". Ainda assim, se a utilização dos certificados - que se deverá manter como meio de acesso ao interior da restauração e alojamento - correr bem, pode ser alargada a outros setores. "Parece-nos, por exemplo, que algumas atividades que permanecem encerradas poderão eventualmente, se a população estiver satisfeita, assegurar também um funcionamento nestas condições", disse Siza Vieira, sem pormenorizar..A AHP, ao Dinheiro Vivo, defende também o alargamento deste livre trânsito como porta de entrada para outras atividades. "Esta situação parece vir para ficar. À semelhança do que já acontece em muitos países da Europa, o passaporte para podermos fruir de livre circulação é o certificado com a prova da vacinação ou estes testes", diz a vice-presidente. "No médio prazo, a expectativa é que haja alguma normalização. Nos outros países da Europa é isto que vai acontecer; sabemos que os números estão a crescer, mas também que o certificado da UE permite uma ampla margem de liberdade aos Estados-membros. E que os Estados estão a utilizar mecanismos como este, que vão normalizar de alguma maneira, não apenas o acesso aos empreendimentos turísticos, mas a outros equipamentos. A nossa expectativa é que isto se estenda também a partes integrantes da experiência turística", acrescenta..A AHRESP, com a utilização do certificado para acesso aos espaços, pede o levantamento das restrições. "Isto é, as restrições horárias e de lotação no caso dos estabelecimentos de restauração devem ser levantadas; no caso dos negócios ainda fechados devemos abri-los porque se funciona para alargar das 15h30 para as 22h30" também deve ser para permitir a sua abertura, diz Ana Jacinto..A associação emitiu ainda ontem um comunicado a pedir que o governo implemente 10 medidas que considera essenciais para a sobrevivência destes setores. Além de um novo programa de estímulo ao consumo, pede que o IVA na restauração e bebidas fique temporariamente na taxa mínima, moratórias fiscais e o relançamento do lay-off simplificado.