As festividades de Ano Novo na Madeira são um dos pontos altos para o turismo da região. O fogo-de-artifício na viragem do ano, na baía do Funchal, é uma imagem de marca e que leva, todos os anos, muitos viajantes à região. Apesar da nova variante do vírus, a Ómicron, ter levado a um eventual aumento dos receios, há muitos turistas, incluindo residentes em Portugal Continental, que querem entrar em 2022 na Pérola do Atlântico. Apesar do ligeiro abrandamento nas reservas nos últimos dias, fruto dos desenvolvimentos da pandemia, o governo regional estima que a taxa de ocupação fique muito próxima dos 90% nos últimos dias de 2021.
A Madeira, tal como outros destinos turísticos, foi afetada pela pandemia, embora tenha vindo a recuperar terreno nos últimos meses. As transportadoras aéreas têm elevado o número de lugares disponíveis e a Ryanair vai passar a voar para o arquipélago em 2022. Eduardo Jesus, secretário regional do Turismo, não entra em grande detalhes sobre o que é esperado para 2022, assumindo que tudo depende da evolução da pandemia. Mas garante que o trabalho de casa está feito, para que a região possa "sair deste colete forças" em que a pandemia se pode traduzir.
"A Passagem do Ano vai contar com muitos portugueses. A operação portuguesa foi muito bem vendida desde o início. Os operadores envolvidos nas operações de charters reportaram com alguma facilidade o que estava a ocorrer durante os últimos meses. Temos relatos de variadíssimos hotéis que estão esgotados para o final do ano. Fizemos duas auscultações ao mercado para saber qual era a taxa de ocupação que perspetivavam para a Passagem do Ano. Há cerca de três semanas estaríamos nos 85%; há cerca de três ou quatro dias já estávamos bem perto dos 90%", começa por dizer Eduardo Jesus, secretário regional do Turismo, em entrevista ao DV.
"A partir do momento em que surgiu esta nova variante houve um abrandamento das reservas. Não temos cancelamentos expressivos, o que temos é um abrandamento das reservas para o final do ano. Muito provavelmente vamos andar perto dos 90% no final do ano, o que já é um belíssimo momento para todo o setor", acrescenta.
E não é só no caso do alojamento que as taxas de ocupação são elevadas. Antes da pandemia, o porto do Funchal tipicamente estava lotado com navios de cruzeiro estacionados para que os seus passageiros pudessem ter uma vista privilegiada do espectáculo de fogo-de-artifício. Que voltará neste ano, para felicidade de muitos. "Para o final do ano já temos dez navios de cruzeiro confirmados para assistir ao fogo-de-artifício. Até parece que estamos num ano perfeitamente normal", indica o governante. Mas antes de entrar em 2022, importa perceber como foi o ano de 2021.
Balanço de 2021
Os dados estatísticos disponíveis vão apenas até outubro, só sendo possível fazer um balanço global em meados do primeiro trimestre de 2022, quando o INE divulgar os dados finais de 2020. Mas, nos dez primeiros meses deste ano, a região autónoma acolheu mais de 744 mil hóspedes, que realizaram mais de 3,4 milhões de dormidas. Ambos os indicadores estão acima do registado na totalidade de 2020, mas abaixo de 2019. A atividade turística na Madeira conta com duas grandes diferenças face ao que existia antes da pandemia: o número de portugueses aumentou e, por outro lado, está a captar públicos mais jovens.
"Quando as coisas reanimaram um pouco mais, neste segundo semestre, começámos a sentir uma reação boa do mercado, não só através da oferta de lugares das companhias aéreas - muitas vezes a superar os lugares que eram oferecidos em 2019 - mas também devido a um grande esforço promocional. Montamos uma operação nacional sem precedentes para o Porto Santo e para a Madeira. Tivemos seis charters para o Porto Santo no verão, mais seis voos regulares para a ilha a partir de Portugal Continental. Depois de vender todas as camas do Porto Santo no verão, e com esta dinâmica embalámos para setembro, quando fizemos um esforço para continuar a dinâmica de agosto. Em outubro, realizamos a Festa da Flor, e tivemos outra vez um grande pico de notoriedade a que a procura correspondeu", adianta.
Com a pandemia de covid-19, muitos dos que escolhiam destinos de verão mais longínquos e, eventualmente exóticos, optaram por ficar na Europa, até por causa da maior facilidade proporcionada pela vacinação e pelo certificado digital. Isto pode ajudar a explicar tanto o aumento da oferta de lugares para a Madeira na aviação, como a subida no número de residentes na ilha a passar férias no destino.
Em agosto, e segundo o mesmo responsável, os proveitos do alojamento na Madeira bateram mesmo um recorde: 50 milhões de euros no total. "Nunca tínhamos atingido esta barreira", revela Eduardo Jesus. E no mês seguinte, voltou-se a bater recordes: "No alojamento, foi a melhor marca em qualquer mês de setembro na história do turismo da Madeira, com o maior RevPAR [receita por quarto disponível] da nossa história com 72 euros."
Novas alianças
Há quem defenda que as crises podem ser oportunidades. O turismo no arquipélago tentou precisamente que estes meses fossem de abertura de portas. Forjaram novas parcerias, abrindo caminho a novos mercados, e continuam a piscar o olho às companhias aéreas.
"Estivemos atentos a tudo o que surgiu e criámos novas parcerias, trabalhámos com novas companhias e diversificámos mercados. Fomos trabalhar com o Báltico e com os mercados de Leste, impossibilitados de avançarmos para os EUA como queríamos de início. Só esta aposta no Báltico e no Leste rendeu-nos cerca de 8% do turismo que tivemos no verão. Mais recentemente, inaugurámos a ligação direta de Nova Iorque para a Madeira que é a primeira vez que acontece em toda a nossa história, uma operação que temos uma grande esperança que permita um virar de página nas acessibilidades regionais", conta Eduardo Jesus.
Além disso, a Ryanair vai, em 2022, passar a voar para a Madeira e criar uma base aérea no Funchal, o que "vai permitir, de um dia para o outro, crescermos 22%".
2022 de aposta jovem
A partir do verão de 2022, a low-cost Ryanair vai passar a voar de e para o Funchal. Vai oferecer dez rotas, tanto para o continente como para o mercado britânico, e 40 frequências semanais. O secretário regional não tem dúvidas de que "a pandemia trouxe grandes oportunidades e uma foi essa. Perseguimos esse objetivo de ter um público mais jovem. Tínhamos andado já a trabalhar nisso com campanhas específicas, mas era um caminho que, provavelmente, iria demorar uma década. A pandemia acelerou todo esse processo e esta nova operação com a Ryanair também vai contribuir para isso. Os países que nos ligam através da Ryanair já são países com os quais trabalhamos, as cidades é que, na maioria, são diferentes. Acima de tudo é a comunicação que se coloca em cima desta rede que a companhia nos disponibiliza de chegarmos a um público bastante alargado e jovem".
Em termos de low-cost, a britânica easyJet, que opera no Funchal desde 2007, também tem operação entre o arquipélago, Portugal Continental e ilhas britânicas. Ainda nesta semana indicou que registou "um crescimento YoY [anual] de 46% nos últimos seis meses (julho a dezembro)". Eduardo Jesus não esconde que gostaria que esta transportadora estabelecesse uma base no Funchal e garante que seriam bem recebidos. "A Madeira tem o desejo de ter uma base da easyJet. Isso não é novidade. Temos expressado isso sempre à companhia. É uma decisão que tem de partir da companhia neste momento. Nós estamos dispostos a investir de igual forma - como fizemos com a Ryanair - com esta companhia ou qualquer outra", assegura.
Quanto ao ano de 2022, o secretário regional assegura que a Madeira está a "trabalhar para que" possam ser alcançados os números de 2019.
"O que se evidencia neste último semestre de 2021 é um prenúncio do trabalho que iniciámos muito antes e ao qual estamos a dar continuidade. O mercado nacional respondeu imediatamente e muito positivamente a tudo o que fizemos aqui na Madeira para captar a atenção. Mantemos uma fortíssima operação com Inglaterra e através do maior operador inglês, a Jet2, já estamos a trabalhar com nove bases diferentes; com o mercado alemão até ao final do ano recuperamos a oferta de lugares que tínhamos em 2019; a aposta no Leste e no Báltico é para continuar", diz.
"Temos criadas todas as condições para que 2022 seja um ano para sairmos deste colete-de-forças, mas tudo dependerá da evolução da pandemia", remata.