O presidente do BPI afirmou na quinta-feira que "não existe nenhuma guilhotina" sobre as pessoas que têm dificuldades em pagar os empréstimos bancários, para sublinhar que não entende o período negocial de 90 dias hoje anunciado pelo Governo. "Não existe propriamente uma guilhotina sobre quem tem dificuldades em pagar. É do interesse de ambas as partes, do banco e do devedor, fazer todos os esforços para encontrar soluções construtivas antes de chegar a soluções limite e de rutura", sublinhou Fernando Ulrich.
No âmbito de um conjunto de medidas legislativas, hoje anunciadas e a implementar até ao verão, para apoiar o consumidor e reduzir os atuais níveis de endividamento das famílias, os bancos ficarão obrigados a, antes de avançarem para tribunal para exigir uma dívida em falta, encetar um processo de negociação com os clientes incumpridores durante pelo menos 90 dias.
O presidente do BPI confessou desconhecer esta iniciativa do Governo, mas afirmou que a sua primeira reação "é de algum espanto e admiração", por não perceber "o alcance" da medida.
"Os processos de recuperação de créditos são sempre graduais, penso que já é assim que os bancos trabalham. Se o objetivo é que os processos de recuperação de créditos sejam graduais, é assim que se passa na prática, porque é de interesse de ambas as partes", acrescentou.
Ulrich salientou, no entanto, que em Portugal "é baixo" o nível de incumprimento no crédito à habitação, "que é, de longe, o mais utilizado".
"A esmagadora maioria das pessoas continua a cumprir as suas obrigações e há mesmo algumas que até reembolsam mais depressa do que o previsto no contrato com os bancos, porque lhes faz confusão ter dívidas. A situação não é tão má como pode parecer", rematou.
Fernando Ulrich falava em Braga, à margem de uma conferência sobre "O papel da banca para a recuperação Económica", uma iniciativa da Arquidiocese de Braga e dos Hotéis do Bom Jesus.