
A maior parte dos portugueses está convencida que "não tem um nível de endividamento demasiado elevado", no entanto, há "uma percentagem significativa" que sente uma "pressão elevada" para saldar dívidas. A conclusão é do estudo "O bem-Estar Financeiro em Portugal: Uma perspetiva Comportamental, divulgado esta quarta-feira pelo Doutor Finanças, que aponta que "um em cada quatro portugueses tem dificuldades em pagar as suas contas e cumprir as suas obrigações financeiras".
O estudo foi realizado pela Laicos - Behavioural Change, pela Nova Information Management School e pela Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa, com "mais de metade dos inquiridos" a assumir "ter demasiadas dívidas, com valores muito altos face aos seus rendimentos". Esta interpretação deve-se ao facto de 22% dos inquiridos terem confirmado que têm demasiadas dívidas, com 33% a responder que os encargos mensais "são demasiado altos para os rendimentos" do agregado. Acresce a confissão de 27% quanto à dificuldade em pagar contas todos os meses.
Outra conclusão do estudo é que em caso de perda de rendimento, as famílias portuguesas enfrentam desafios adicionais, porque quase metade adimite não ter o suficiente nas suas poupanças para "cobrir despesas durante três meses em caso de emergência". Veja-se os dados recolhidos: 70% garantiu ter poupanças e 65% afiança ter colocado dinheiro de parte no último ano, mas só 50% tem reservas prontas para cobrir despesas durante três meses em caso de emergência.
Segundo o estudo, e apesar de quase dois terços dos inquiridos ter poupado algum dinheiro nos últimos 12 meses, 45% dos portugueses nunca realizou qualquer tipo de investimento, dos quais só 38% refere já ter pensado nisso.
"A maioria dos portugueses já investiu algum dinheiro, sendo que a fatia mais considerável das poupanças das famílias é direcionada para produtos com menor risco, como certificados de aforro e planos poupança reforma", lê-se.
Os inquiridos revelam também que o bem-estar financeiro assume um "papel central" na vida, sendo que os "portugueses com menor bem-estar financeiro têm uma probabilidade três vezes maior de experienciar tristeza".
As questões financeiras contribuem mesmo para os seus níveis de ansiedade, existindo uma percentagem significativa que apresenta sentimentos de culpa quando pensa sobre as suas finanças pessoais, uma vez que 50% admite sentir-se ansioso quando pensa em finanças pessoais e 61% diz que prefere não pensar no estado das suas finanças.
Estes dados consubstanciam um trabalho que conclui, ainda, que 64% dos portugueses tem "um baixo conhecimento financeiro". Por exemplo, apenas 36% dos inquiridos responderam corretamente a questões relacionadas com taxas de juro, inflação e diversificação e risco na hora de investir. Numa análise comparativa com outros países europeus com PIB per capita e literacia financeira acima da média europeia, Portugal ficou atrás dos níveis de literacia registados há 15 anos na Alemanha e Países Baixo.
O inquérito que esteve na base deste trabalho foi realizado em janeiro deste ano, tendo sido recolhidas respostas de 800 pessoas, entre os 18 e os 75 anos de iadade, de nacionalidade portuguesa e a residir em Portugal.