Se o empregador de Jair Bolsonaro fosse um clube de futebol, ele jamais ocuparia o cargo de presidente. Um presidente governa, administra, gere, comanda, chefia, rege, superintende, lidera - e isso dá trabalho, requer tempo, exige competência e implica inteligência, tudo o que ele não tem.
E nunca seria treinador. O treinador orienta, pensa, coordena, encabeça, conduz, guia, pilota, acompanha - e isso dá trabalho, requer tempo, exige competência e implica inteligência, tudo o que ele não tem.
Jogador? Jamais. O jogador corre, luta, passa, ataca, defende, dribla, desarma, remata - e isso dá trabalho, requer tempo, exige competência e implica inteligência, tudo que ele não tem.
Se Bolsonaro trabalhasse num clube de futebol seria, no máximo, cheerleader, ocupado a agitar pompons - sim, ser cheerleader também dá trabalho, requer tempo, competência e inteligência, o que desde logo faria de Bolsonaro um medíocre chefe de claque, mas serve sobretudo de entretenimento e distração, atividade para a qual o presidente brasileiro, reconheça-se, demonstra vocação.
Nos últimos 12 meses, 36% dos brasileiros relataram não ter tido dinheiro para comprar comida para si mesmos ou para os familiares - é aliás a primeira vez, desde que o estudo da Fundação Getúlio Vargas é realizado, que a média nacional supera a média mundial (35%). Bolsonaro, no entanto, para agitar a bancada vem atacando o sistema de votação por urnas eletrónicas, considerado por 10 em cada 10 especialistas internacionais o mais seguro e inviolável do mundo, já preparando eventual derrota nas eleições.
O desemprego atingiu 11,3 milhões, mais do que um Portugal inteiro, e o rendimento médio dos empregados caiu 7,9% face a 2021, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística desta semana. Mas o presidente da República, que tirou férias 15 vezes em três anos no cargo, aponta a mira para o outro poder, os juízes do Supremo Tribunal Federal, para manter os espetadores animados.
A inflação no país voltou ao fantasma dos dois dígitos com a gasolina a bater máximos históricos. Bolsonaro, entretanto, vai mudando os presidentes da petrolífera estatal Petrobras - já são três alterações, duas nos último mês - para distrair a galera e tentar se eximir de culpa.
Na Saúde, o governo do segundo país com mais mortes (670 mil) por covid, atrás apenas dos EUA, mudou quatro vezes de ministro e boicotou a vacinação até ao limite. Quando já não havia alternativa, aceitou comprar imunizante mas com suspeitas de corrupção. O presidente? Enquanto participa em motociatas - passeios de moto com apoiantes -, em lanchaciatas - de lancha - e jeguiatas - de jegue - chama as forças armadas de "suas" para deixar no ar a possibilidade de um golpe de estado à moda latino-americana e os apoiantes em alarve efervescência.
Na Educação, o ministro que recusava alunos com deficiência nas aulas "por atrapalharem o aprendizado dos outros" e defendia "universidade para poucos", acaba de ser demitido por estar envolvido num esquema de corrupção em que pastores evangélicos, como ele, trocavam verbas públicas para os municípios por barras de ouro para os seus bolsos. Mas para Bolsonaro a prioridade "é combater o socialismo e o comunismo", conforme disse na semana passada na Marcha Para Jesus, rodeado de mais pastores evangélicos em êxtase.
No ambiente, a notícia da semana, para desenjoar dos recordes negativos na Amazônia, é o aumento de 66% no desmatamento da Mata Atlântica. O chefe de estado do Brasil, porém, ataca... Leonardo DiCaprio: "Não adianta fazer videozinho mentiroso falando que está pegando fogo na Amazônia, é bom o DiCaprio ficar de boca fechada ao invés de ficar falando besteira por aí", disse, para gáudio da audiência.
Se o empregador de Bolsonaro fosse um clube de futebol, ele jamais chegaria a Pinto da Costa, para usar como imagem o campeão nacional FC Porto. Nem a Sérgio Conceição. Ou sequer a Pepe. Bolsonaro seria, no máximo, o Macaco, líder dos Superdragões.