O mercado único é um dos principais fatores de competitividade da UE. Se a Europa está entre as três maiores economias do mundo, isso deve-se, em grande medida, à livre circulação de bens, serviços, capitais e pessoas garantida pelo mercado único. Acontece que, quando o mercado único foi criado, em 1993, o mundo era bastante diferente - menos concorrencial, menos globalizado, menos interdependente. Acresce que, após a entrada no séc. XXI, assistimos a crises económicas sucessivas, a uma pandemia global, a disrupções tecnológicas, a movimentos populistas, a tensão geopolítica e a agravamento climático..Tudo isto para dizer que, conforme está hoje a funcionar, o mercado único já não se compadece com os desafios da UE perante a dinâmica do mundo e da economia global. A Europa está a competir com blocos geopolíticos e económicos bem mais poderosos do que há 30 anos. EUA, BRICS, Japão ou mesmo os países da ASEAN têm vindo a crescer alavancados por fatores de competitividade como o talento, a produtividade, a ciência, inovação e tecnologia, os transportes e logística..O mercado único precisa de uma reforma profunda, como defende o “Relatório Letta”. É indispensável tornar a união aduaneira europeia mais integrada, mais eficiente e menos burocrática. O que passa, desde logo, por atacar o problema da fragmentação de setores cruciais para a competitividade da UE, como a energia, os serviços, o mercado financeiro e as telecomunicações..Para ganhar escala e massa crítica, estes setores precisam de ser mais integrados, o que exige a simplificação, otimização e harmonização de regulamentos e normas técnicas dentro do mercado único. É também necessário investir em infraestruturas que conectem os Estados-membros, de forma a integrar os sistemas de transporte e logística europeus e a dotar a Europa de melhores redes de energia, telecomunicações e internet. Por fim, importa eliminar os obstáculos que ainda subsistem à mobilidade laboral e académica, aprofundando o reconhecimento de competências e qualificações e estimulando o desenvolvimento tecnocientífico..Quanto ao mercado financeiro, parece-me essencial que se torne mais estável, eficiente e acessível, o que implica também um esforço de harmonização de regulamentos, de criação de infraestruturas comuns e de reforço da supervisão conjunta. A UE carece de um mercado financeiro capaz de competir globalmente e de oferecer boas soluções de financiamento a empresas, investidores e consumidores. Hoje, para se capitalizarem, muitas empresas europeias recorrem ao sistema financeiro americano, que tem um mercado de capitais muito forte e um dinâmico ecossistema de capital de risco..Mas Enrico Letta vai mais longe e apresenta propostas verdadeiramente transformadoras para a Europa, como o financiamento da transição verde através de uma união de poupança e investimento, combinada com fundos públicos; a criação de um novo regime jurídico virtual para que as PME possam mais facilmente operar noutros países da UE; e o reforço do mercado único com a liberdade de inovação, evitando que os empreendedores europeus tenham de emigrar para os EUA para desenvolver os seus projetos..Há que aproveitar cabalmente o potencial do mercado único. Aprofundar o sistema aduaneiro da UE permitirá a integração de setores vitais, a atração de talento, inovação e investimento, a melhoria da mobilidade interna e a partilha de infraestruturas e recursos. Fatores que concorrem para o fortalecimento da competitividade europeia..Presidente da CIP