Neste ano, a rejeição liminar do Orçamento do Estado pelo Parlamento encurtou o tempo da sua discussão, que sempre ocupa obsessivamente políticos, analistas e comunicação social - indício claro de um país de Estado-dependentes. Demasiado tempo perdido, porque os últimos orçamentos, como este, limitam-se a replicar, com mais ou menos ajustes conjunturais, os vícios dos orçamentos anteriores, impeditivos do crescimento económico, mais despesa, mais impostos, mais défices, maior dívida pública. E um tempo manipulador, em que as reivindicações dos grupos de interesses, clientelas e corporações instaladas com acesso aos media, tomam forma de interesse nacional..Naturalmente que o governo, evolução na continuidade, foi serenando as corporações protegidas e aquietando os parceiros políticos distribuindo despesa que servisse os seus objetivos programáticos e eleitorais. .Ao povo, e com muita falta de ética, o governo foi "vendendo" o produto, mascarando como verdades aritméticas o que não passava de falsidade na vida do cidadão: a diminuição do IRS da classe média, mesmo traduzida numa poupança mensal de 2 euros para casais com rendimento bruto de 2200 por mês, ou a diminuição do preço dos combustíveis, dádiva de umas gotas no abastecimento em que, por força da tributação, a cada 10 litros pagos só 4 entram no depósito. Ou o aumento do investimento público, quando em 2022, sem o PRR, seria abaixo do de 2015..E assim ocultava o governo o essencial, um OE sem coerência interna, o crescimento anémico, o aumento da dívida, a fiscalidade asfixiante, e o nível insuportável da despesa pública que não se traduz em benefício sentido pelo cidadão e pela economia. Despesa a crescer quase tanto como o PIB, muita dela dirigida a tarefas em duplicado, atividades redundantes ou sem objeto útil, serviços em circuito fechado, ou sustento dos pedintes institucionais que veem no aconchego do Estado um frutuoso modo de vida..No final, os parceiros do governo, menorizando as "conquistas" já obtidas, transformaram o Parlamento num virtual mercado de troca de produtos, condicionando a aprovação do OE à contrapartida de legislação ao serviço dos seus objetivos ideológicos. O câmbio falhado foi o preço da rejeição do orçamento..O tempo é de esperança por novas políticas.. Economista