A imigração é um tema fraturante nas sociedades desenvolvidas e tem servido de “canto de sereia” dos movimentos populistas, fazendo perigar regimes democráticos que considerávamos irreversíveis. O extremismo político explora as perceções, os medos, os preconceitos associados à imigração, muitas vezes com recurso a desinformação. É isto que está a suceder nos países europeus, não sendo Portugal exceção..A tensão que a vaga migratória está a gerar acontece, precisamente, num momento de acelerado envelhecimento populacional na Europa. O que é paradoxal, pois à partida há uma aparente conciliação de interesses: os países europeus necessitam de população jovem e força de trabalho, enquanto os imigrantes querem oportunidades de vida e emprego..Mas a realidade é mais complicada do que esta soma de interesses. A imigração pode acarretar problemas de exclusão social, tensões culturais, dumping salarial, precariedade laboral, sobrecarga dos serviços públicos... Enfim, um conjunto de desafios que os países europeus têm de saber superar, com vista à plena integração dos imigrantes. Sem essa integração, estão em causa o equilíbrio demográfico, o crescimento económico, a sustentabilidade do Estado social e a própria democracia na Europa..Em Portugal, a integração de mais imigrantes é um fator absolutamente decisivo para o crescimento económico. O nosso crónico problema de produtividade tem sido amenizado com a incorporação de mais força de trabalho na economia, resultante, justamente, da entrada de imigrantes no mercado de trabalho. Nunca houve tantas pessoas empregadas no país, mas esse aumento da população ativa não é suficiente para as necessidades do tecido produtivo. .Para o país crescer, tem de produzir mais. E para produzir mais, é essencial aumentar a força de trabalho. Ora, pelas razões demográficas conhecidas, o reforço da força de trabalho só pode provir da imigração. De resto, as empresas sentem hoje uma dramática falta de recursos humanos e os grandes investimentos previstos para o país são inviáveis sem mão-de-obra imigrante. Refiro-me ao plano “Construir Portugal” (59 mil casas até 2030) e restantes investimentos do PRR, ao projeto da alta velocidade e ao novo aeroporto de Lisboa, por exemplo. .É, pois, muito bem-vinda a entrada de imigrantes no mercado de trabalho. O país tem de atrair também pessoas com talento altamente qualificadas para alteração do paradigma da economia portuguesa. O nosso desenvolvimento depende disso. É indispensável evitar que a imigração provoque situações de indignidade humana e fraturas na sociedade. Para isso, as responsabilidades sociais da integração dos imigrantes não podem ser transferidas exclusivamente para os empregadores. .As empresas têm, obviamente, um papel fundamental a desempenhar nessa integração, desde logo garantindo todos os direitos laborais e sociais dos trabalhadores migrantes. Mas o Estado não pode ser desresponsabilizado. Cabe-lhe suprir as necessidades básicas dos imigrantes mais vulneráveis (saúde, habitação, educação …), bem como garantir a emissão expedita de vistos e a regularização das situações de permanência..É preciso um compromisso social alargado na integração dos imigrantes, com responsabilidades partilhadas entre Estado, empresas e sociedade civil. Esse compromisso servirá para que o país possa apresentar aos imigrantes um verdadeiro projeto de vida e não apenas um lugar para trabalhar. Isto pressupõe não só acesso a emprego, mas também a todas as outras condições para uma existência digna e com futuro..Presidente da CIP