Quando era miúdo, na minha terra, ouvia muitas vezes o diálogo seguinte:
- Então como vai o seu pai? Não o vejo há muito...
- Ok, coitadito, já nem sai de casa, está tolhido de todo...
Também o país está tolhido de todo. Não mexe. Vai vegetando numa burocracia de morte, sem rasgo nem alma.
É tido como urgente o novo aeroporto de Lisboa. Pois a Presidente da Comissão Técnica nomeada para apresentar até ao fim do ano o Relatório final da sua localização admitiu, em entrevista recente, que iria pedir desde já, e preventivamente, uma prorrogação do prazo de entrega das conclusões. Equipas tolhidas, motivação de cumprir prazos tolhida, um aeroporto tolhido. Mas bem desperta e sublimada a burocracia.
Aliás, uma posição que mais não faz que seguir a atitude bem cómoda de muitos governantes, burocratas de espírito e na acção, para quem nada ver ou tudo esquecer, numa prática de laisser faire et laisser passer, substituem o incómodo de decidir.
Aliás, parece até que os computadores ministeriais foram treinados para esse fim, ficando tolhidos com o volume das mensagens acumuladas e porventura não descarregadas, impedindo decisões em tempo oportuno e tornando os governantes meros agentes de tomada de conhecimento, que autorizar ou reprovar não é certamente função ministerial. Exemplo recente, a derrapagem épica do valor das obras do Hospital Militar de Belém a que ninguém atalhou e nem serviram a que funcionasse. Está tolhido, sem se saber para que serve.
As greves dos professores não são de agora, mas os motivos são os mesmos, de há muito a esta parte. Absortos nos mesmos diferendos, governo e professores deixam os alunos tolhidos.
Revertem-se reversões, a TAP privada foi nacionalizada, para agora voltar a ser privatizada. Deram-lhe uma volta, mas ficou tolhida no mesmo sítio. Tolhidos não ficaram, até voaram, 3,2 mil milhões de euros que a reversão custou.
Portugal está no fim da tabela da competitividade fiscal. Tolhido fica o investimento em Portugal. E o emprego e criação de riqueza.
O PRR está "encravado", "emperrado", "estrangulado", dizem os empresários. Tolhido, digo eu também.
E, metáfora extraordinária, até os tanques Leopard estão inoperacionais e tolhidos estão, para já não falar dos helicópteros Kamov que nem chegaram a andar. Retrato vivo de um país tolhido.
António Pinho Cardão, economista