Detetar falhas, ajudar a resolver questões jurídicas ou abrir caminhos para ultrapassar problemas de concorrência, recorrendo a uma visão de águia, que permite uma observação muito abrangente e uma análise cirúrgica. E contando para isso com a ajuda de parceiras altamente especializadas que têm no currículo clientes como a Polícia Judiciária, a Mossad ou o FBI.
No ADN da Kepler Forensic Partners, fundada no final de 2019 por António Macedo (ex-Deutsche Bank, Deloitte, KPMG) e Pedro Espanha da Cunha (PwC, KPMG, EY) - e cujo nome foi importado do astrónomo Johannes Kepler, precisamente por esta ideia de observar o detalhe no quadro de um universo macro - está a vontade de ajudar as empresas que a procuram a resolver problemas. E se em muitos aspetos se assemelha a uma big four - para o que pesa a experiência de décadas dos dois sócios e de todos os 11 quadros com que já conta -, é precisamente no que a distingue das multinacionais de consultoria que a Kepler Forensic Partners ganha. A começar pela agilidade que consegue subcontratando serviços em vez de os integrar, garantindo assim um grau de especialização e qualidade de alto nível para responder aos desafios das empresas clientes.
Que tipo de desafios são esses? Desde casos de fraude até temas de concorrência, passando pela digitalização total da administração fiscal de um país. Vamos por partes.
"A investigação forense, a que as nossas concorrentes, as big four, não se dedicam muito, é das nossas áreas mais fortes", confirma António Macedo, explicando que o caso típico é uma investigação de uma fraude numa empresa. "Quando acontece um caso, o tema fica fechado na administração e tem de ser tratado com extremo rigor. É aí que entramos em ação. O que fazemos é uma investigação económico-financeira, consultamos registos contabilísticos para ver até que ponto vão os problemas e se houve intenção de roubar ou o prejuízo decorre de algo que foi mal feito e escondido."
Porque o segredo aqui é rei, não revela, naturalmente, os nomes dos clientes que já lhes levaram casos destes. Mas dá uma ideia de como a Kepler trabalha para colher resultados. "Por exemplo se a investigação requer cópia de telemóveis ou de computadores, chamamos uma empresa de topo que é nossa parceira e tem entre os clientes a PJ e que cumpre a parte técnica. E a partir daí analisamos o que nos entregam." Dá outro exemplo, de uma empresa israelita que trabalha com o FBI e a Mossad, que tem um sistema ágil de "deteção de mentiras": "A partir da gravação de uma conversa, o sistema constrói gráficos que analisam o discurso, as inflexões, o registo e indica que em determinado momento o entrevistado estava calmo, com certo tema ficou nervoso ou mesmo que sobre um dado assunto mentiu." Para usar esta aferição como prova, é necessária autorização do interlocutor, mas essa pode ser dispensada quando o objetivo é apenas usar os resultados como pistas para seguir um caminho diferente na investigação. "Não precisamos de ter este tipo de valências cá dentro, incorporados, mas podemos usar essas ferramentas a todo o momento", conclui António Macedo.
Também na área de litigation a Kepler tem conseguido ação regular. São sobretudo casos a que são chamados por escritórios de advogados para dar suporte económico-financeiro quando existem litígios e, por exemplo, é preciso uma análise de peritos independentes ou especializados. E uma área que tem vindo a ganhar peso é a da concorrência, em que a Kepler pode intervir para clarificar questões que originam processos e multas da Concorrência. António Macedo garante que às vezes, para evitar multas decorrentes de processos como os que enfrentam empresas como a SuperBock, a Mastercard ou a EDP, basta construir uma análise cuidada de certos fatores. Exemplifica: num caso de preços, pode resultar uma análise e exposição exaustiva de todos os fatores que pesam no preço; e muitos podem não ser óbvios à partida. Noutro caso analisado, de um pequeno hospital comprado por um grupo e que gerou um tema de concorrência, aponta vários caminhos que poderiam ser explorados: "Se o raio de ação dessa unidade devia estar confinado à região ou recebia doentes de mais além; se havia ali serviços exclusivos; se fazia sentido analisar apenas a concorrência privada ou alargar ao público... Com este tipo de intervenção, podemos ajudar as empresas a poupar milhões em multas", diz o sócio da Kepler. E vinca: "O nosso trabalho é defender as empresas."
Com mais de uma dezena de clientes por ano a chegar à Kepler Forensic Partners e uma média de cinco semanas para tratar um caso dos mais simples - os preços são estabelecidos conforme o tempo dedicado e o número de pessoas envolvidas, podendo ser acrescido de componentes específicas, como a necessidade de ir a tribunal expor uma opinião de perito, e António admite que "estão em linha ou até ligeiramente acima dos praticados pelas big four, dado o grau de especialização" -, a empresa faz negócio com empresas de todo o tipo de áreas, do setor automóvel à aviação, da construção à saúde, do retalho e distribuição ao turismo. Mas estes são os clientes regulares.
Há depois um projeto especial, na área de economics, para o qual foram desafiados em 2019: fazer a informatização da administração fiscal da Guiné Equatorial. "É um projeto imenso, complexo, mas muito compensador, porque tem o potencial para revolucionar e ajudar a desenvolver aquele país", conta António Macedo. E explica como construiu a equipa à medida do projeto - a tal mais-valia da Kepler. "Juntámos os melhores players em TI, chamámos a Open Soft, que fez o Simplex português e desenvolveu ferramentas semelhantes noutros países, incluindo Angola, juntámos alguns dos fiscalistas que melhor conheciam o tema (incluindo o antigo secretário de Estado dos Assuntos Fiscais Carlos Lobo e o professor Sérgio Vasques) e reunimos uma equipa de topo. A nós cabe ainda a parte de consultoria e a de relação com o governo do país - estamos a um par de meses de concluir esta primeira fase", concretiza.
Adotando uma estrutura típica das consultoras - além dos dois patners, há uma senior manager, managers que gerem projetos, seniors e staff - e com grande atenção às melhores práticas de sustentabilidade e igualdade de género, António Macedo admite que quer fazer evoluir a empresa, mas não torná-la demasiado grande. "Chegar às 30 pessoas é o objetivo pelo qual nos guiamos e que esperamos atingir agora que as dificuldades introduzidas pela pandemia vão desaparecendo." E ganhar também novas apetências com ferramentas adquiridas para análise de grandes dados, buscas mais sensíveis e capacidades fornecidas por meio de IA. "Uma área interessante no âmbito da ética e compliance são os projetos de whistleblowing, que empresas mais sofisticadas já vão tendo: os canais de denúncia têm de ser bem montados, mas para dar seguimento a temas que façam soar alarmes, garantindo a segurança e proteção dos denunciantes, por exemplo, é preciso a intervenção de pessoas e entidades externas." E também aí, garante, a Kepler Forensic Partners pode ser uma parceira importante.