Um terço dos docentes que ensina futuros professores não tem formação no ramo educacional

Estudo do think tank da Fundação Belmiro de Azevedo revela que docentes que asseguram a formação inicial de professores não têm formação no ramo educacional. "É importante que haja uma correta formação inicial de professores", defende o estudo.
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Conhecer as características académicas e profissionais que traçam o perfil dos docentes que asseguram a formação inicial de professores dos ensinos básico e secundário em Portugal é necessário, segundo o Edulog - o think tank de educação da Fundação Belmiro de Azevedo.

Neste sentido, o laboratório, que procura contribuir para um sistema de educação de referência através da investigação, divulga esta quarta-feira um estudo sobre o "Perfil académico e profissional de professores do ensino superior que asseguram a Formação Inicial de Professores", cujas conclusões resultaram de uma análise aos 148 cursos nacionais que formam os docentes nesta área.

"Esta investigação deverá servir como ponto de partida para uma reflexão mais alargada sobre a importância da Formação Inicial de Professores", afirma David Justino, membro do conselho consultivo do Edulog, citado em comunicado.

Entre as principais conclusões, o estudo dá conta de que "no que diz respeito ao perfil académico, profissional e de investigação, a maioria dos docentes que asseguram a formação inicial dos futuros professores possuem doutoramento e têm formação académica ajustada às unidades curriculares que lecionam".

No entanto, "um terço não tem formação no ramo educacional e os perfis académicos estão desajustados à natureza de algumas componentes de formação", pode ler-se no documento. Os resultados mostraram que quem assegura a formação inicial de professores são docentes em início de carreira, entre os quais o número daqueles que têm experiência de ensino nos ensinos básico e secundários é reduzido.

"Apesar das indicações legais para a progressão de carreira, muitas das instituições de ensino superior não têm aberto concursos" para esta formação, refere o Edulog, em comunicado, acrescentando que esta realidade pode "significar um indicador das dificuldades financeiras vividas neste setor".

Ainda sobre o perfil destes profissionais, a maioria tem ligação a centros de investigação, "ainda que não seja feita referência ao tipo de pertença nem à participação em projetos", revela o estudo. Contudo, e ainda sobre as atividades de investigação, o volume de publicações de artigos por parte destes docentes é baixo, sendo mais expressiva no caso de professores do ensino universitário do que no ensino politécnico.

"É importante que haja uma correta formação inicial de professores", começa por frisar o Edulog, em comunicado, explicando que esta é a receita para "uma classe de docentes bem formada e com competências direcionadas para o ensino nos primeiros anos de escolaridade, 3º ciclo do ensino básico e ensino secundário".

Para que seja possível concretizar este objetivo, "as instituições de ensino superior com cursos nesta área de formação devem envolver os seus docentes, com um claro investimento na progressão da carreira académica" e "oferecer condições aos docentes para o envolvimento em projetos relacionados com esta área de ensino, assim como para a produção científica e investigação", reforça o conselho consultivo do think tank da Fundação Belmiro de Azevedo.

A adicionar à lista de recomendações, o Edulog diz que as instituições responsáveis pelos cursos de formação inicial de professores devem "encontrar formas de envolvimento institucional ativo dos docentes sem formação académica de base educacional, em atividades de desenvolvimento profissional relacionadas com o exercício da docência nos níveis escolares para os quais estão a formar".

Para o reconhecimento institucional desta realidade, devem ser proporcionadas condições de desenvolvimento profissional que permita aos docentes aprofundar conhecimentos "sobre práticas de ensino supervisionado, ao mesmo tempo que se criam condições de envolvimento dos estudantes, em estágio, em atividades de investigação sobre a prática docente", acrescenta o Edulog.

Por fim, o laboratório de investigação refere ainda que os protocolos de cooperação entre as instituições de ensino superior e as escolas cooperantes devem ser ampliados a processos institucionais de trabalho coletivo, a fim de evitar "o isolamento da relação dos professores cooperantes no seu relacionamento apenas com os estagiários".

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