Uma cultura anticrescimento

Publicado a

Não é possível criar e desenvolver políticas de crescimento sem uma alteração radical da cultura vigente. Uma cultura que vê no Estado a solução dos problemas e o agente único de progresso, que ostraciza a iniciativa privada e ignora competitividade e produtividade, uma cultura antiempreendedorismo e de combate ao lucro, uma cultura de anatematização de qualquer experiência de gestão privada de serviços públicos, mesmo que se tenham revelado eficazes, como nas PPP dos hospitais. Afinal, a cultura que explica o débil crescimento do país, ilustrado na contínua ultrapassagem no ranking do PIB per capita por países com os quais nos comparamos.

Uma cultura continuamente reproduzida e ampliada em muita comunicação social, seja de forma acrítica, resultado de pura inércia, ou de forma militante, quantas vezes de maneira subliminar, ao abrigo de um sagrado, embora muito laico, critério jornalístico. Acentuando deste modo a resistência à mudança e a mentalidade conservadora das administrações públicas e das organizações sociais e, num círculo vicioso, favorecendo intervenções puramente ideológicas dos governos.

Não há economia que cresça sem grandes empresas - e em Portugal não as há, mesmo à escala ibérica, muito menos europeia - as que mais têm capacidade de gestão, de investimento, de inovação e de exportação, de pagar melhores salários, e as mais capazes de favorecer o desenvolvimento das centenas de outras que constituem o tecido industrial que as complementa. E as que assim são qualificadas, em vez de apreciadas, são exemplo claro de um tratamento negativo. Quer por parte dos governos que convivem mal com a iniciativa privada e logo descobrem lucros especulativos e tributações extraordinárias, quer por parte de muita imprensa que amplia e justifica tais medidas, sem olhar ao capital investido e à sua remuneração, às necessidades de autofinanciamento, ao enquadramento da indústria, numa sobrevalorização da ideologia e menosprezo da economia.

Não escapam à crítica as associações empresariais quando, reverentes aos poderes instalados, se demitem de contrabalançar as ideias vigentes, de influenciar a criação de um pensamento são e aberto ao crescimento económico, de realçar o papel das empresas, grandes ou pequenas, na sociedade e assim de defender os seus associados.

António Pinho Cardão, economista

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt