Em contraciclo quando comparada à maior parte dos setores económicos, que por causa da pandemia inverteram abruptamente os seus ciclos de atividade e crescimento, a Construção continua a suportar o embate da crise e a conseguir que os seus principais indicadores se mantenham no positivo, embora com tendência para abrandar e decrescer.
Tal como em momentos de disrupção anteriores, verifica-se que a perda de capacidade financeira torna o mercado mais prudente, particularmente no que diz respeito a investimentos, sendo o segmento residencial um dos mais fortemente impactados, com a multiplicação de decisões de adiamento de compra ou construção de habitação, enquanto a conjuntura se mantém volátil e incerta. Este conservadorismo financeiro tem como consequência uma retração generalizada que não favorece a economia nacional, ávida de todas as movimentações que permitam começar a falar em retoma. Contudo, verdade seja dita, sabe-se que nem todos observam a crise à luz deste mesmo prisma.
Para os investidores de oportunidade, esta pode muito bem ser a ocasião para tirar partido de bons negócios imobiliários, nomeadamente por via da reabilitação de edificado a colocar no mercado mais à frente. Em reflexo do ditado, "diz-me se é caro ou barato, perguntar-te-ei onde?", a localização de algumas oportunidades vai continuar a ser um fator preponderante para muitas decisões, sendo que embora os centros das cidades continuem a "segurar o barco" do segmento alto, é nas periferias dos centros decisórios que se encontram mais facilmente respostas a requisitos tornados prioritários pela pandemia: áreas mais generosas, a existência de espaços exteriores e a possibilidade de mais contacto com a natureza vão continuar a marcar a procura de quem adere à descentralização.
Não esqueçamos que a "bazuca" financeira que a Europa e o Governo português negociaram prevê 1.633 milhões de euros de subvenções e 1.149 milhões de euros para empréstimos em habitação, através de programas que não vão, por si só, resolver os "estragos" causados pela pandemia, mas que têm o potencial de impulsionar a confiança necessária para a realização de mais obras e transações.
A reabilitação urbana é, não só, uma necessidade em termos de parque habitacional, como um instrumento estratégico para uma intervenção integrada, que concretize a modernização do nosso edificado em aspetos como o desempenho energético (Pacto Ecológico Europeu) e ajude à recuperação e competitividade do país. Aproveitar o momento para reabilitar e renovar beneficia a fileira e transmite uma mensagem esperançosa ao mercado, num país com condições naturais de excelência que não devem ser desperdiçadas.
Nuno Garcia, diretor-geral da GesConsult