No mesmo dia em que apresentou ao mercado os resultados relativos ao último trimestre de 2024, onde registou uma subida dos resultados líquidos na ordem dos 19%, a Unilever Hindustão anunciou a finalização de um acordo para a compra da marca de cosmética de luxo Minimalist. Fundada em 2020 por Mohit Yadav and Rahul Yadav a empresa é uma das que regista um crescimento mais acelerado no segmento das marcas que cruzam a inovação científica e a cosmética. Segundo o comunicado enviado pela retalhista, a Minimalist registou no ano passado uma faturação a rondar os 50 milhões de euros, tendo garantido desde a sua criação um crescimento sustentando.A Unilever Hindustão vai, então, adquirir uma participação de 90,5% da Minimalist, e até ao início de 2026 as duas equipas deverão trabalhar juntas. O negócio deverá ficar concluído nessa altura - a entrada da Unilever vai ser feita através de uma combinação de compra de participação secundária e injeção de capital. O valor global da operação rondou os 350 milhões de dólares.Este negócio confirma aquilo que já se tinha tornado claro na estratégia da retalhista mundial que, sob a alçada de Heins Schumacher, se tem dedicado a surpreender o mercado com movimentações pouco convencionais para a empresa: que a Unilever está de baterias apontadas ao mercado da Índia, onde tem apresentado resultados positivos e tendências de crescimento. Mas já lá vamos. Antes, é preciso perceber o que tem feito Schumacher à frente da empresa detentora de etiquetas como a Dove, a Hellman’s ou a Knorr.O responsável foi, desde que assumiu funções em junho de 2023, significativamente pressionado a fazer mexidas relevantes para tentar melhorar os resultados moderados registados ao longo dos últimos anos.Nesse sentido, no ano passado a Unilever - presente em Portugal através da Unilever Portugal, que tem uma parceria com a Sociedade Francisco Manuel dos Santos -anunciou que iria cortar 7.500 postos de trabalho, e que iria vender o negócios dos gelados, responsável por cerca de 16%das vendas totais do grupo. O segmento de negócio inclui marcas como a Ben&Jerry’s e os conhecidos Cornetto ou Magnum, vendidos sob a alçada da Olá, em Portugal. Estimativas do Barclays avaliam o negócio dos gelados da Unilever em algo como 17 mil milhões de dólares, e dão-lhe uma quota de mercado de 20%, o que significa que é lider mundial no segmento. Tudo factos que ajudam a que a operação se torne muito atrativa para alguns compradores.Na ocasião, a notícia apanhou o mercado de surpresa, mas agradou aos investidores, que fizeram os títulos da Unilever disparar mais de 3% nesse dia. Na ocasião, o CEO da empresa disse que espera ter o negócio concluído no final de 2025. Recorde-se que, já em 2021, a Unilever vendeu o seu negócio de chá por €4,5 mil milhões, depois de ter alienado o seu negócio de cremes vegetais por €7 mil milhões, em 2017.Mas a verdade é que a Unilever tem, desde então, tentado reforçar nas áreas de beleza e bem-estar, cuidados pessoais, lar e nutrição, onde tenta ganhar quota de mercado que tem vindo a perder para a concorrente Procter&Gamble. O mais recente negócio dá assim à unidade indiana da Unilever uma posição mais forte no segmento de beleza premium, acrescentando ao seu portefólio de marcas como Dove, Pond’s e Lakmé. Já no ano passado a mesma unidade tinha adquirido a Oziva e da Wellbeing Nutrition.O movimento da multinacional - que é também seguido por muitas outras como a PepsiCo ou a Procter&Gamble - acontece numa altura em que a a economia indiana cresce a um ritmo mais rápido entre aqueles que são os principais mercados emergentes, enquanto a China regista uma desaceleração significativa no consumo. O gigante asiático, que nos últimos anos foi o garante das receitas de muitas das retalhistas mundiais, começa agora a retrair-se com a incerteza a pairar sobre os consumidores. A´Índia, onde ainda tudo está para acontecer, aparece assim como uma dos mais apetecíveis geografias para explorar.Também esta semana a Unilever anunciou - em mais um movimento curioso - que, para chegar a um público mais jovem, em todo o globo, vai triplicar o seu investimento em ‘gaming’. A decisão surgiu depois de ter visto premiada uma campanha da Knorr que registou resultados “espetaculares” junto da geração Z, escrevia o BusinessPlus. Agora, a multinacional quer usar a estratégia para pôr cada vez mais jovens a comer vegetais.Se a estratégia de diversificação, tanto de portefólio como de geografias, vai resultar, é uma questão de esperar para ver.