Depois de ter registado uma faturação entre 55 e 60 milhões de euros em 2017, este ano a Uniself prevê que as receitas disparem para 80 milhões, um salto de 25 milhões que se deve sobretudo ao concurso público que a empresa ganhou para fornecer as refeições escolares por três anos, até 2020..O impacto na operação também se fez sentir: em setembro de 2017, a empresa passou de 1400 para um total de 2000 unidades (cozinhas de clientes onde preparam refeições localmente), com o acréscimo de 600 cantinas escolares e de 160 mil refeições diárias servidas nas escolas. No total, a Uniself fornece 3,5 milhões de refeições por mês em todo o país. Só com o Estado, a empresa já celebrou contratos no valor de mais de 310 milhões de euros..Com este aumento exponencial da produção, do número de funcionários e do volume de negócios veio também uma onda de reclamações e polémicas que marcou todo o primeiro período em muitas escolas. Nessa altura, as redes sociais inundaram-se de críticas ao serviço prestado pela empresa (alimentos servidos crus às crianças, pouca comida no prato, fraca qualidade dos ingredientes e matérias--primas)..Hoje, a Uniself garante que os problemas estão ultrapassados e quer mostrar que a empresa de capitais 100% nacionais, fundada há 37 anos, faz muito mais do que servir refeições ao alunos portugueses. Do seu portfólio fazem também parte sopas pasteurizadas para o Jumbo, arroz de pato para o Pingo Doce e ainda o catering para grandes eventos, como será agora o caso do Festival da Eurovisão, que terá lugar em maio em Lisboa, e também o Rock in Rio, ao que apurou o Dinheiro Vivo..“Somos uma empresa de restauração coletiva. 97% da nossa produção é nos locais, ou seja, nas cozinhas dos clientes. A fábrica em Loures representa apenas 3% da produção - para sítios onde não haja cozinha, a comida já vai feita daqui, e também para a grande distribuição. Trabalhamos com marcas brancas de algumas cadeias de retalho nacionais”, explica João Lobo, diretor comercial da Uniself, sem revelar os nomes dos principais clientes da empresa, que emprega mais de 4700 colaboradores..Na fábrica de Loures, trabalham 35 pessoas e o dia começa às cinco da manhã e termina às cinco da tarde. Nessas 12 horas são produzidas, todos os dias, 5000 refeições pasteurizadas e refrigeradas. O processo de confeção é tradicional, como em qualquer cozinha mas numa escala muito maior (500 litros de sopa ou 15 kg de arroz de pato de uma só vez, por exemplo), e as receitas também são tradicionais (bacalhau à Gomes de Sá, feijoada à transmontana, almôndegas com molho de tomate, pastéis de bacalhau)..Segue-se um processo de refrigeração entre os 0 e os 5 graus, passagem pelo detetor de metais, embalamento a vácuo e por fim a pasteurização, através de um choque térmico com água gelada e água quente, o que confere uma validade maior aos alimentos cozinhados (até 21 dias). “Produzimos, armazenamos e vai para os clientes para ser consumido. No local, a comida é aquecida e servida em escolas, hospitais, cadeias, e outros clientes de vários setores de atividade”, explica o responsável da Uniself, ao longo da visita guiada à fábrica, cuja construção resultou de um investimento de 17 milhões de euros em 2005..“Neste momento temos todas as cantinas das escolas do Estado. Mas desse universo, apenas três ou quatro escolas recebem as refeições pasteurizadas feitas na fábrica. As restantes vão para hospitais, IPSS, cadeias”, revela João Lobo. Do universo Uniself faz ainda parte uma plataforma logística em Santa Iria da Azoia que abastece a fábrica e as 2000 unidades espalhadas pelo país. Por dia distribui 250 toneladas de produtos alimentares e não alimentares. Os fornecedores são na sua maioria nacionais, garante o responsável, dizendo que não há matérias-primas de primeira e segunda categoria..Quanto ao futuro, passa cada vez mais pelas refeições pré-confeccionadas. “Vamos apostar neste mercado para, daqui a uns anos, termos mais catering do que confeção local”, diz João Lobo. A fábrica de Loures até já está preparada para esse cenário: com uma capacidade para 35 toneladas por dia, a unidade está neste momento a produzir apenas 10 toneladas. Além do catering, o crescimento do turismo e da hotelaria abre novas oportunidades, para abastecer novos restaurantes e cadeias de hotéis. “Gostaríamos de ter fábrica a laborar a 100%.”