As famílias portuguesas tinham a descoberto, em maio deste ano, 902 milhões de euros, valor que corresponde a um aumento de 47% face a igual mês de 2020, quando esse montante se situava nos 614 milhões, revelam os dados mais recentes do Banco Central Europeu (BCE). Para este aumento terá contribuído a subida da inflação e a escalada das taxas de juro. Com os preços da energia, dos alimentos e da habitação a disparar, os rendimentos de muitas famílias portuguesas terão deixado de ser suficientes para cobrir as despesas mensais. .Nestes últimos quatro anos, marcados pela pandemia da covid-19, a dívida contraída por esta via atingiu o seu pico no início de 2022. Em janeiro e fevereiro desse ano, o volume de descoberto comunicado ao BCE pelas instituições financeiras a operar em Portugal ultrapassou os 1100 milhões de euros em cada um destes meses. Foi o período do embate do aumento da inflação. Em 2022, inicia-se a guerra na Ucrânia (24 de fevereiro), com as repercussões conhecidas nos preços, e o banco central decide subir as taxas de juro diretoras. Mais uma vez, o aperto das famílias face à subida do custo de vida terá impulsionado o recurso ao crédito disponível na conta bancária..Mais endividamento.Desde 2022 que o volume total de descoberto em Portugal tem vindo a cair, embora sempre na casa dos 900 milhões de euros. Mas 2024 apresenta sinais preocupantes. Como sublinha Natália Nunes, coordenadora do Gabinete de Proteção Financeira da DECO - Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor, “a pandemia, a inflação, as taxas de juro, são situações de impacto no orçamento familiar”. Na sua opinião, o valor só não é mais alto dado o baixo nível de desemprego. Mas lembra: “O crédito pessoal está a subir”..Os dados do Banco de Portugal confirmam. Em abril (últimos números conhecidos), as instituições financeiras emprestaram 301 milhões de euros em créditos pessoais sem finalidade específica, mais 30,5% face ao mesmo mês de 2023. Para educação, saúde, energias renováveis e locação financeira de equipamentos foram concedidos 11,4 milhões nesse mês, um crescimento homólogo de 9,6%. Também em abril, a banca cedeu 119,4 milhões em cartões de crédito, linhas de crédito e facilidades de descoberto, mais 24,7% face ao mesmo mês de 2023. No total, foram contratados 707,1 milhões de euros em crédito ao consumo em abril - o valor mais alto desde março de 2023 .