
Os portugueses estão mais confiantes e isso nota-se nas compras que fazem para casa. Nos primeiros três meses do ano, as vendas do mercado de bens de grande consumo, o chamado retalho alimentar, cresceram 4,6% face ao período homólogo, para 2997 milhões de euros, com as marcas da distribuição a perderem quota de mercado, ainda que ligeiramente. Depois da trajetória de crescimento ao longo de 2023 e de, nos primeiros meses de 2024, terem chegado a pesar 46,1% dos gastos das famílias nos supermercados, no acumulado do trimestre as “marcas brancas” desceram três décimas.
“É um sinal positivo para a economia, que deverá resultar de um aumento da confiança dos consumidores na gestão dos seus orçamentos, e para as próprias empresas”, diz o diretor-geral da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED), numa análise aos dados mais recentes dos Scantrends da Nielsen. O estudo mostra que, em março, as vendas, em valor, de bens de marcas de fabricantes cresceram 6,4%, já muito próximo do valor total do mercado, que subiu 7,1%, e da performance das marcas da distribuição, que aumentaram 7,9%.
“Esta aceleração do crescimento em valor não parece ser efeito do preço, mas do aumento do consumo”, diz Gonçalo Lobo Xavier, lembrando que, segundo o Instituto Nacional de Estatística, a inflação nos produtos alimentares foi de 0% em março. Aponta também algum efeito do aumento do turismo.
O diretor-geral da Centromarca, a associação de empresas de produtos de marcas, considera igualmente que os números da Nielsen mostram que o efeito da contenção da inflação começa a gerar impacto no volume comprado. “Depois de dois anos de crescimentos [de vendas] muito empurrados pelo aumento dos preços, este crescimento agora já é um bocadinho mais saudável. Com a inflação mais baixa, o consumidor já se sente um bocadinho mais confortável”, considera Pedro Pimentel.
Para as marcas de fabricantes, o arranque do ano foi “particularmente difícil”, com quebras de 0,2% em janeiro e um crescimento marginal de 0,3% em fevereiro, pelo que, o crescimento de 6,4% em março permite antecipar melhores dias. Mas tudo depende de como a inflação continuar a evoluir e, sobretudo, das taxas de juro. “Todos sabemos que vão diminuir, não sabemos é quando e em que dimensão. O seu efeito em cadeia demora, no mínimo, três a quatro meses a fazer-se sentir, pelo que, se a decisão do BCE surgir antes do final do primeiro semestre, poderá já fazer-se sentir no consumo no último trimestre do ano”, refere.
Recorde-se que, em 2023, as vendas do retalho alimentar fecharam a crescer 11,7% para 13 554 milhões de euros, muito impulsionadas pela inflação, o que levou o governo a implementar a isenção de IVA num cabaz de produtos essenciais, medida que terminou no início do ano.
A este propósito, Lobo Xavier lembra que, o facto da inflação estar a baixar, não significa que os preços baixem também. “Estão é a aumentar menos e, embora haja categorias que nos estão a preocupar, com aumentos muito significativos das matérias-primas, como o cacau e o azeite, a verdade é que está a haver um esforço para haver um equilíbrio e um sortido que dê liberdade de escolha às famílias”, sublinha