José Miranda aprendeu a ser uma pessoa positiva em 23 anos desta . vida, "para cima e para baixo". Primeiro vendeu equipamento . de escritório, desde 1996 "é vendedor de carros. Tem 51 anos. . "Está difícil, mas há saídas. Sobreviverão os melhores e os . que trabalharem mais. Vender sempre foi uma luta. Até Julho correu . mais ou menos, depois foi abaixo, mas agora tem vindo a melhorar. Há . uma queda no mercado de 20% a 30%." As vendas de carros caíram . em Setembro 34,3%, nos ligeiros a queda foi de 33,8%. . Na última semana um estudo da consultora MBM Mobile revelava que . os tradicionais stands de automóveis podem acabar dentro de três . anos e que boa parte das compras será feita pela Internet. Se os . homens que batiam às portas com calhamaços debaixo do braço são . uma imagem longínqua do típico vendedor, segundo os analistas da . MBM, o actual modelo de negócio está igualmente obsoleto e o online . revolucionará o sector automóvel em breve. . "O mercado está diferente", reconhece José Santos, . presidente da Associação Portuguesa de Profissionais de Vendas: . "Antes, o vendedor era o provedor de informação. Hoje está . tudo na Net. Antes, o cliente ia ao stand, hoje vê as . características online e quando chega à loja é para discutir um . desconto nos tapetes. O verdadeiro desafio para os vendedores é . descobrir qual é o valor adicional que o produto tem, entender o que . o cliente quer e de que precisa e esforçar-se para estar informado." . Como há menos oportunidades, José Santos aconselha a trabalhar . "o dobro ou o triplo" para atingir os objectivos: "Noutros . tempos fazíamos dez contactos para realizar um negócio. Hoje são . preciso 100. O cliente está mais criterioso, ninguém compra o que . não quer. Já não chega tentar impingir." . Há "três tipos" de vendedor: os saltitões, os . pré-reformados e os profissionais. "Os saltitões habituaram-se . a fazer contratos de três e seis meses, não trabalham o suficiente . e culpam o País, o produto ou o mercado pelos seus maus resultados. . Os pré-reformados têm mais de 50 anos e resistem à aprendizagem. . Os profissionais estão identificados com a empresa ou a organização, . esforçam-se por se manter actualizados e conseguem retorno: ou seja, . não gastam e trazem dinheiro à empresa", resume José. . Bons ou maus profissionais, a verdade é a que a vida dos . vendedores já foi bem mais fácil, como se percebe nas palavras de . sete vendedores que contam os seus casos ao Dinheiro Vivo e deixam . conselhos. . "Trabalhar mais"José Miranda sorri para a fotografia no stand da Soauto, nas . Laranjeiras, Lisboa. "As pessoas estão menos inclinadas a . gastar. Temos de trabalhar mais, não podemos adiar nada: se o . cliente só pode fazer o test drive no domingo, temos de aparecer." . José está a ganhar "um bocado menos" nas comissões. Não . desanima, porque não se vê a fazer outra coisa: "Tenho é de . trabalhar mais para angariar clientes. Se não, ao fim do mês tenho . lá só o ordenado-base - e eu nem quero saber quanto é." . "Mais dedicação ao cliente""Obviamente que a crise está a afectar muito as vendas, e . quem disser o contrário está a mentir", garante Miguel . Borlido, agente imobiliário da Remax, 35 anos, que vende e arrenda . casas há uma década. "Sente-se e vai comprovar-se na quebra no . número de IMT (imposto municipal de transacções de imóveis) . liquidados em 2011, principalmente no segundo semestre. Em termos de . facturação a diferença não será tão acentuada, porque o . segmento médio-alto e alto continua bem." . Miguel vê apreensão na cara dos clientes, "mesmo nos que . têm condições para comprar". E aponta outro problema: "Um . apartamento comprado em 2005 vale hoje menos 5% a 10%, mas a verdade . é que a casa que vai comprar também está mais barata. Para manter . o nível de comissões, o vendedor tem de "trabalhar mais, . investir em promoção" e dedicar-se mais aos clientes. . "Talvez mude de vida""Estou a ver isto um bocado negro." António Vilar . percorreu muitos quilómetros em 28 anos ligado à indústria do . vinho. Passou por seis casas e teve a sua própria empresa nove anos. . Agora está no Solar dos Cabrais, que trabalha com produções e . colheitas pequenas. Os fornecedores de vinhos têm ordenado-base e . comissões (0,5% a 3%), ou ganham apenas com o que vendem (5% a 8%). . António, 47 anos, teve sorte ao negociar um ordenado fixo: "Nesta . altura, julgo que fiz muito bem." Ainda assim, põe a hipótese . de mudar de vida: "Depende da evolução do mercado. Estou a ver . isto um bocado negro e não é de agora, vem de há quatro anos. Dá . para pagar impostos, empregados, água, gás e electricidade. O . consumo diminuiu: as pessoas bebem menos vinho para pagarem menos no . fim." . A carteira de mais de 150 clientes não chega: "Em alguns, as . vendas desceram 40% a 50%." E quanto a produtos topo de gama, . que há dez anos vendiam, ninguém lhes toca: "O cliente quer . vinhos baratos e pede outras condições de pagamento. A factura é . de 30 e 90 dias e às vezes não conseguem pagar." . "Mais acompanhamento"António Melo, 42 anos, é feliz a vender relógios na Watch . Planet, desde Julho de 2007 - uma "empresa sólida, com uma . posição estável". Mas sofre com a crise dos outros: "Menos . vendas fazem cair a facturação e como o que se vende tem um preço . mais baixo, cai também o volume de vendas." A quebra acentuada . generalizada obrigou-o a redobrar a atenção: "Temos de fazer . um trabalho de acompanhamento mais eficiente para manter os níveis . de stock aceitáveis e com os relógios certos." A grande . dificuldade está nos prazos para receber: "São cada vez mais . dilatados, o que afecta as reposições e as vendas. Para o mesmo . valor de comissões, temos um nível de encargos muito superior." . Mais empenho e análiseA crise também chega aos seguros e à vida de Maria Assunção . Torres, 44 anos, consultora da Accive Matosinhos. O seu trabalho é . aconselhar qual o melhor seguro na relação custo/cobertura, mas as . comissões desceram: "Estamos a falar de menos 10% a 15% ano. As . pessoas não vão além do obrigatório. Por exemplo, no seguro . automóvel o cliente discute o preço, mas quando se trata do seguro . de saúde opta quase sempre pelas opções mais completas", . esclarece Assunção Torres, que diz ser notória a queda percentual . e de facturação no ramo automóvel. . Gonçalo Galveias, 36 anos, faz há quatro anos "prospecção . comercial de novos clientes" e apoia os que estão há mais . tempo com a corretora de seguros Scal. Sente-se "realizado": . a empresa tem mantido a facturação e "temos clientes . satisfeitos". Mas assume que as pessoas "perdem mais tempo . a ver preços e ligam menos ao serviço. A minha empresa liga muito . ao serviço e aposta em relações de longo prazo com os clientes, . com fortes campanhas de fidelização. E ainda conseguimos ter . sucesso", diz. Gonçalo ganha à comissão. Não nota diferenças . entre o recebia e o que hoje leva para casa. Tudo seria perfeito, não . fosse a demora que a crise trouxe ao negócio: "Está mais . difícil a concretização, as pessoas analisam mais." O . corretor espera que 2012 traga novas oportunidades, "uma vez que . vão diminuir os benefícios da Segurança Social e da Saúde". . Escolher melhor"A indústria farmacêutica tem sofrido imenso com a crise. É . a actividade que tem mais regulação e o utente sai prejudicado . porque a escolha do medicamento é muitas vezes feita pelo preço e . não pela importância terapêutica que representa." . Próspero Silva, delegado de informação médica, 47 anos, usa . uma imagem para falar das diferenças de facturação: "Basta . entrar numa farmácia e ver o número de clientes." Nas . comissões, está a ganhar "1,5 vezes menos" na . multinacional ibérica onde trabalha. . Há 23 anos que divulga inovações terapêuticas junto de médicos . e farmacêuticos e deixa uma crítica ao Estado: "O médico tem . vindo a ser cada vez menos o decisor da terapêutica do doente. A lei . está a obrigá-lo a escolher apenas pela via economicista."