Uma sanita falante, uma visita ao palácio da filha da Rainha de Copas e a ativação de refrigerantes Fanta com gelado ilustram o tipo de experiências que a VidCon ofereceu este ano a milhares de participantes. O grande evento anual sobre a indústria do vídeo, que termina hoje em Anaheim, Califórnia, já não tem a pompa de anos anteriores nem a muito concorrida keynote do YouTube, onde eram anunciadas novidades e reveladas estatísticas impressionantes. São sinais de um mercado mais maduro, com novos players a ter em conta e uma metamorfose no eixo entre o pós-pandemia e a ascensão da Inteligência Artificial. .“A forma como criamos e consumimos conteúdos mudou”, disse Katrina Torrinos, criadora digital baseada em São Francisco e evangelizadora do Adobe Express, numa sessão da VidCon 2024. “Aquilo que abalou a economia dos criadores nos últimos dois anos foi a IA”, continuou, assumindo que “há muito nervosismo” quanto à tecnologia na comunidade. .Este foi um tema central da edição 2024 da conferência, com múltiplas sessões dedicadas à IA Generativa e ao impacto que já está a ter na indústria. O ambiente oscilou entre o entusiasmo e otimismo e os avisos quanto às salvaguardas que serão necessárias. Muitos criadores mostraram como estão a usar ferramentas IA para tornarem o seu trabalho menos árduo e repetitivo e ajudar a ter melhores ideias. Empresas como a Meta e a Adobe investiram em presenças no evento para promoverem soluções viradas especificamente para estes segmentos. .A Meta moderou uma sessão na qual quatro criadores de conteúdos explicaram como estão a usar as ferramentas Meta AI e Creator AI – esta última uma solução que permite criar um bot personalizado e treinado com os nossos dados, que pode responder por nós. .“O Creator AI é de loucos, utiliza exatamente a minha linguagem e os meus emojis”, disse a influenciadora Madi Monroe. “Permite aos meus fãs sentirem-se mais perto de mim sem que eu tenha de responder às milhares de mensagens que recebo.” Quem responde é a versão artificial de Madi, que foi treinada com a sua atividade anterior no Instagram. .Kallaway, que recentemente teve a oportunidade de entrevistar Mark Zuckerberg para o seu canal, descreveu o Creator AI como “uma forma de estender” e escalar a pessoa. .“A IA vai estar em todo o lado”, afirmou. “Vai ser uma camada invisível, ao contrário do que é agora, em que temos de ir a um site para a usar”, continuou. “Vai tornar tudo o que gostamos de usar melhor e mais interligado.” .Mas nem todas as conversas foram tão entusiásticas. Num painel sobre como a IA está a transformar os conteúdos, o estratega Ben Relles salientou que ainda há muita incerteza e “vamos ter de navegar para ver como queremos que isto funcione.” .LinkedIn, o novo espaço de influenciadores .Até há poucos anos, a rede para profissionais LinkedIn podia ter sido descrita como uma das plataformas mais aborrecidas e menos frescas das redes sociais, sendo que era esse o seu apelo. Mas isso mudou, como ficou patente numa sessão denominada “LinkedIn: o gigante adormecido do marketing de influência.”.A rede está a lançar ferramentas para apoiar um crescente ecossistema de influenciadores em áreas de negócio e tecnologia, incluindo soluções que permitem promover e amplificar conteúdos. .“Os influenciadores B2B não têm o mesmo nível de escala mas têm relações mais profundas com a sua audiência”, explicou Brendan Gahan, cofundador da Creator Authority, durante a sessão. Ao contrário de outras redes sociais, que incentivam milhões de seguidores e compras por impulso, neste caso há maior ênfase no gráfico social e nas conexões próximas. “Aqui trata-se de estabelecer credibilidade”, referiu Gahan. .O especialista prevê, apesar disso, que o LinkedIn será uma plataforma de influência também no B2C, entre empresas e consumidores, porque “há muitas marcas de consumo que têm um pé no mundo profissional.” Por exemplo, marcas de café ou de fatos. .Ruben Hassid, fundador da EasyGen, salientou que aqui não é preciso ter um milhão de seguidores e deu o exemplo de um gestor de conta que consegue um ou dois clientes novos com cada mil seguidores. “Cada cliente representa 100 mil dólares”, disse. “Parem de tentar chegar aos milhões.”.Para Jeremy Boissinot, CEO da Favikon, o LinkedIn “está a tornar-se numa plataforma para toda a gente”, que não implica conhecimentos de vídeo ou fotografia como o Instagram, TikTok e outras. .“Há uma espécie de revolução a acontecer”, afirmou. “Penso que dentro de um ou dois anos toda a gente vai usar a rede.” Segundo ele, os influenciadores profissionais no LinkedIn preservam uma credibilidade que foi perdida nas outras redes, onde os criadores saturaram as audiências com anúncios e parcerias pouco convincentes a troco de compensação monetária. .“Aqui não é como no Instagram, em que se pode patrocinar uma Story”, disse. “É sobre o nível de expertise do criador.” E se até há dois anos, não havia Youtubers no LinkedIn, agora Boissinot está a ver uma evolução. “Até os criadores de conteúdos são profissionais”, sublinhou. .Ao longo de quatro dias, em que criadores com milhões de seguidores como Charli D’Amelio, Pinky Patel ou a brasileira Monica Mamudo passaram pelo evento, a VidCon 2024 permitiu levantar o véu sobre o que os especialistas pensam que será o futuro da economia de criadores. Casey DePalma, diretora de comunicação de marca na Unilever, disse que uma das redes que está prestes a ressurgir é a Pinterest e que as marcas devem prestar atenção a isso. E também previu que haverá uma mudança para focar mais em comunidades de nicho e menos nos milhões de seguidores que os influenciadores conseguem acumular. .Rosie Nguyen, fundadora da Fanhouse, anunciou o nascimento de “uma nova classe de criadores”, que vão usar IA para fazer coisas que até aqui estavam reservadas aos grandes estúdios. .E Marc Hustvedt, presidente do Mr. Beast – o maior e mais influente canal do YouTube – falou da necessidade de criar novos modelos de receitas, para lá dos conteúdos gratuitos suportados por anúncios. “Temos de mudar a forma como isto funciona”, afirmou. “Os dólares publicitários não cehgam para pagar os vídeos a esta escala.”