[Interior de quarto de hotel.].Plano aberto. Uma cama desfeita. Uma miúda ressona alegremente. Não há uma ventoinha a lembrar as hélices dos helicópteros, no calor wagneriano da batalha, há um ar condicionado a lembrar a frescura das cavernas antigas..- Saigão, shit, ainda estou em Saigão. Sempre que sonho, estou de volta à serra deliciosa, à frescura das pedras....De repente um barulho ensurdecedor. O que será isto? Bombas, granadas? Explosões?.- Oh! O horror. O horror....Acordar com despertador..Para quem não viu o filme, nem leu o livro, está tudo bem. Para os outros, também. O que interessa do "Vietname Agora", não é a Hanoi Jane Fonda, nem o aroma do napalm logo pela manhã. A única maneira de se vencer esta guerra é conseguir não ser muito enganado quando se compra o bilhete para o cruzeiro em Halong Bay. Essa sim, é uma batalha perdida à partida..Mas chega de metáforas que hoje a crónica é dedicada a quem quer ver o Vietname além do ecrã. O budget para uma mega, vá, média produção de 15 dias, é de 620€ por casal. A isto só precisam de somar a viagem de avião (ou helicóptero) para cá chegar..Não, não é de borla. É o preço de um ano em cigarradas, meio ano de jantaradas, um telemovelzito, 1/6 de carrito. Etc., etc. Mas o que ganha em retorno, ah meus amigos....Então, já vos falei de Saigão e já vos falei das cavernas do Dragão. Mas o melhor deixei para o fim. Para mim, as três pérolas do Vietname: Hoi An, Hanoi e Halong. Deixem-me só invocar um personagem de franjinha excitada, para me ajudar a explicar..Então. Hoi An é a vilazinha charmosa onde o Tintin foi mandar fazer a aquelas calças curtas que ele usa sempre. Hoi An tem mais alfaitarias que cafetarias. É aqui que se vem mandar fazer um vestido de noiva igual ao da Princesa Diana ou uns sapatos à Cinderela. Com tantas possibilidades, duvido que o Tintin se fique pelas calças..Hoi An é uma das cidades mais bonitas do mundo. Tem a ponte japonesa, a padaria francesa, as lanternas chinesas e a cerveja vietnamita. Há tanto romance no ar que mais vale trazer um par, ou arranjar alguém com quem aproveitar..Leia mais: Se somos o que comemos, o que é que eu quero ser hoje?.Quando o Tintin se farta da dolce vita, vai para Hanoi. E Hanoi é o contrário de Hoi An. Caos, motas, avenidas caras, um labirinto de ruas apertadas e o melhor buffet gastronómico urbano..Aqui o Tintin enche aquele corpinho de miúda de 13 anos. Esta é a Rua da sopa de noodles e marisco, aquela é a Viela dos caracóis em banho exótico, ali a Praceta da salada de carnes marinadas, acolá a Travessa das sandochas de porco e hortelã que fica atrás do Beco Cha ca la vong, o peixinho grelhado do qual há como escapar..A única coisa que consegue ficar magra em Hanoi são os prédios. Quando as taxas de habitação são medidas em largura, há quem não se importe de viver de lado..Hanoi é tudo e, quem gosta da vida, só sai daqui empurrado..E é então que o Tintin percebe porque é que ir a Halong Bay é a única desculpa possível para se largar Hanoi. A Baía do Perfume e suas redondezas são provavelmente um dos sítios mais bonitos do Globo. Da parte azul do globo, pelo menos..É aqui que o Tintin chama o Capitão Haddock para brincar aos Piratas das Caraíbas. De uma maneira muito épica e masculina, obviamente..O grande senão de Halong Bay são as centenas de alternativas para a explorar. A coisa está feita para explorar centenas de visitantes sem alternativas. Há barcos que, num, piscar de olhos eufemístico, viram cruzeiros de luxo. Há visitantes que, num piscar de olhos otimista, pagam três vezes mais por três dias com menos. E afinal é uma lotaria. Mas sem apostar, não há como ganhar (já diziam as velhotas)..De todas as maneiras Halong Bay, vale todos os troquinhos poupados. E a única maneira de se sair daqui é mesmo quando o visto acaba..E isso, para o viajante, é o pior despertador..O horror...o horror....[Fade in no passaporte.].The end!