Vir de fora cá dentro 

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As nossas Universidades e Politécnicos recebem, todos os anos, umas dezenas de milhares de estudantes estrangeiros. Só no programa Erasmus, os últimos números disponíveis apontam para cerca de 20 mil alunos, dos quais perto de 40% nas áreas de ciências, tecnologias, engenharia e matemática (STEM, no acrónimo inglês). Que razões que os terão levado a escolher Portugal? Arrisco algumas: o clima, a hospitalidade e a qualidade das instituições de ensino superior (não vejo candidatos vindos das melhores escolas europeias, e são em número substancial, priorizarem o “turismo académico”) e o “passa palavra” dos que os precederam. Mas, que mais sabemos desses alunos, dos seus planos e opções? Nada ou quase nada. E era importante. 

Na última década, Portugal tem visto sair muitos dos seus licenciados nas áreas STEM não compensados pela vinda, que ocorre, de licenciados estrangeiros. Num contexto de uma demografia desfavorável, perder pessoas mais qualificadas, condiciona, quando não hipoteca, o desígnio de modernização e desenvolvimento do nosso país. Reverter esta dinâmica exige uma estratégia abrangente, com o empenho das empresas, que não se cinge à descida do IRS para os jovens, uma medida cara e de eficácia duvidosa. 

Terá sido nesse contexto que Luís Montenegro anunciou, no congresso do PSD, uma campanha para atrair talento no estrangeiro. Sugiro que corte o “no”, ficando só “atrair talento estrangeiro”. E, em vez de eventuais campanhas dispendiosas lá fora, comece por olhar para dentro, nomeadamente, para os estrangeiros que cá estudam. Retomo uma ideia, já aqui apresentada: aproveitar a experiência e competência adquiridas, pela AICEP, na gestão do programa InovContacto e organizar, com o envolvimento das empresas e das instituições de ensino superior, o seu simétrico: um programa que sedimente o conhecimento da realidade portuguesa por parte desses jovens, seguido de um estágio de captação numa empresa parceira, cujo empenhamento é decisivo para o sucesso. Na guerra pelo talento, não se pode continuar a empurrar para o Estado toda a responsabilidade. 

Economista e professor universitário

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