Vítor Gaspar armado

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Quer ser divertido? Não diga que é divertido: conte uma piada.Quer ser um verdadeiro empreendedor? Não diga aos amigos que tem umagrande ideia: faça-a acontecer. Atenção: não queremos transformareste caderno num daqueles oásis de jornalismo positivo, recheado deconselhos estúpidos e casos de sucesso. Não iríamos cumprir apromessa. Que se lixe, portanto, o jornalismo positivo. Está-nos nosangue procurar as más notícias - embora nem isso seja certo.Dou um exemplo: na quinta-feira, mesmo aqui à minha frente, aAvenida da Liberdade encheu-se de gente. O que faziam estas pessoastodas? Aproveitavam a noite magnífica e o "Fashion's Night Out"para visitar as lojas abertas até à meia-noite, beber uns copos eouvir os concertos organizados pelas principais marcas de roupa.Naturalmente, os lisboetas aderiram com entusiasmo; como já tinhamfeito com o piquenicão do Continente e como fazem todos os anos como Super Bock em Stock - duas noites de boa música.O repórter do Dinheiro Vivo destacado para a história pareciaentusiasmado. O que sugeriu ele como tema da reportagem para o nossosite? Uma ideia realmente visionária: queria perguntar às pessoas -bem-dispostas, alegres; presumo que depois de um dia de trabalho -como conseguiam gastar dinheiro em roupa cara no meio de uma recessãodeste calibre. Os brasileiros chamam a isto "corta-barato" e têmtoda a razão. Julgo que nem sequer o Vítor Gaspar se lembraria defazer pergunta tão absurda. O sentido de oportunidade é essencial em tudo. Para saber fazerperguntas ou para construir uma capa de um caderno como este.Ilustrar ou não ilustrar o ministro das Finanças de arma fumegantee chapéu à cowboy? - era esta a nossa dúvida na madrugada dequinta-feira. Repare: o cheiro a pólvora (o terceiro aumento deimpostos em três meses) ainda está no ar, logo faz sentido. Noentanto, havia um detalhe a ter em conta. O ministro das Finançasapareceria do lado dos bons ou dos maus?Apesar das pistas comprometedoras e do cenário de faroeste,decidimos dar-lhe o benefício da dúvida. O desenho da PatríciaFurtado, como pode confirmar, não revela nada. Está ali um homemarmado, só isso. Não somos neutrais; mas também tentamos não sertotalmente precipitados. Se Gaspar quer mesmo ser austero, não passea vida a dizer que é austero - corte na despesa pública (na mádespesa pública) e deixe que sejam os outros a tirar essa conclusão.Resulta sempre melhor.

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