
Apresidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciou ontem, em Estrasburgo, a composição do futuro colégio de comissários. A portuguesa Maria Luís Albuquerque fica com a pasta dos Serviços Financeiros e União de Poupanças e Investimentos. Von der Leyen considera que a portuguesa “será vital para fortalecer e completar a União dos Mercados de Capitais e garantir que o investimento privado impulsiona a nossa produtividade e inovação”. Durante a apresentação, a presidente do Executivo Comunitário elogiou a “vasta experiência” de Maria Luís Albuquerque, como ministra das Finanças, destacando “também uma enorme experiência no setor privado, ela combina tudo”.
Von der Leyen reconheceu que “é difícil no campo político” o papel que está a pedir à portuguesa, relativamente à capacidade de Maria Luís para convencer o Conselho a levar por diante a União dos Mercados de Capitais, um plano lançado há quase uma década. “Mas, a pressão está a aumentar (...), estamos a perder todos os anos 470 mil milhões de euros de investimento que não é realizado na União Europeia devido à falta de uma União dos Mercados de Capitais (...) e há uma enorme urgência agora para a concretizarmos”, sublinhou a chefe do Executivo Comunitário, para quem, Maria Luís “é absolutamente a pessoa certa, com um vasto conhecimento sobre este tema”.
A portuguesa será ouvida nas próximas semanas pela Comissão dos Assuntos Económicos e Monetários, do Parlamento Europeu, onde os eurodeputados vão avaliar a sua idoneidade e competência para o cargo. Habitualmente, é aí que o Parlamento “gosta de mostrar o seu poder”, comentou uma fonte ao DN, antevendo que “normalmente, [os eurodeputados] não facilitam”.
É principalmente à esquerda que Maria Luís desperta mais crispação. A eurodeputada Catarina Martins (BE) expressa forte oposição à nomeação de Maria Luís Albuquerque, considerando que “existem claros conflitos de interesse” para desempenhar o cargo de comissária. A deputada afirma que Albuquerque “beneficiou o Sistema Financeiro durante o seu mandato como ministra e depois foi trabalhar para as empresas que favoreceram as suas decisões”. Por essa razão, promete fazer tudo para que o Parlamento Europeu rejeite a sua candidatura, considerando que se trata de uma nomeação “inaceitável para a União Europeia”.
O eurodeputado Paulo Cunha (PSD) vê a nomeação de Maria Luís Albuquerque como “uma vitória para Portugal e para a Europa”, elogiando “as suas credenciais e experiência financeira”. O partido acredita que a pasta atribuída “é de grande relevância”. Quanto às acusações de partidos sobre possíveis conflitos de interesse, o deputado diz-se confiante de que Maria Luís Albuquerque será capaz de passar pelo “escrutínio necessário sem problemas”.
A eurodeputada Marta Temido (PS) destacou a necessidade de se “completar a União Bancária e o Mercado de Capitais”, considerando importante a nomeação de Maria Luís. No entanto, Marta Temido expressou “preocupação com o histórico da ex-ministra”, cujas decisões anteriores “não foram vistas como um sucesso”. Além disso, a eurodeputada também levantou dúvidas quanto à “circunstância de haver uma aparente incapacidade de discernir conflitos de interesses” da parte de Maria Luís Albuquerque.
Já o eurodeputado João Cotrim de Figueiredo (IL) não vê razões para Maria Luís Albuquerque ser acusada de conflitos de interesse, principalmente tendo em conta a sua “experiência profissional”, em particular no setor financeiro. Nesse sentido, considera que o Governo fez “uma escolha forte” no contexto das Finanças Públicas. Cotrim de Figueiredo entende que Albuquer- que possui “instintos políticos alinhados com uma visão liberal, suficiente para garantir a confiança na sua nomeação”.
A eurodeputada Ana Pedro (CDS) expressou satisfação com a atribuição da pasta a Maria Luís Albuquerque, destacando a sua relevância e experiência como ex-ministra e ex-secretária do Tesouro durante o ajustamento financeiro de Portugal, “um dos períodos mais críticos da economia portuguesa”, que considera como um trunfo para lidar com questões como a transição digital e verde. Quanto às questões sobre conflitos de interesse que podem surgir durante as audições no Parlamento Europeu, Ana Pedro acredita que estas são “parte do processo natural de nomeação”.
O Chega reconhece “a competência de Maria Luís Albuquerque para desempenhar o cargo”, mas expressa preocupações sobre o impacto do caso TAP, que poderá “fragilizar a sua nomeação”.
O eurodeputado João Oliveira (PCP) expressou surpresa pela atribuição da pasta a Maria Luís Albuquerque, argumentando que a sua escolha “favorece o setor financeiro” e aprofunda “a centralização do capital na União Europeia”. Além disso, João Oliveira critica o envolvimento da ex-ministra em decisões políticas controversas, como o caso dos contratos swap e a venda de ativos tóxicos. O PCP considera que a nomeação reflete “os interesses dos grandes grupos financeiros” e espera que o escrutínio no Parlamento Europeu “seja rigoroso”.