Estima-se que milhões de toneladas de alimentos sejam desperdiçadas todos os anos na fase de retalho devido à rudimentaridade dos métodos de monitorização de validade dos produtos - e as consequências são vastas, indo das grandes perdas económicas aos incalculáveis estragos no planeta. Mas, para bem comum, os tempos são de mudança e há já quem tenha aposentado o velho bloco de notas para dar lugar à Inteligência Artificial (IA) e ao big data, a fim de reduzir o desperdício alimentar nos supermercados até 75%. Falamos da brasileira WhyWaste, startup vencedora da categoria de soluções tecnológicas do Programa Banco Montepio Acredita Portugal que, em 2022, evitou o desperdício de mais de duas toneladas de alimentos e que se prepara agora para ajudar também os supermercados lusos a serem mais sustentáveis e a eliminarem perdas com artigos vencidos.
Presente em 19 países, em grandes empresas de retalho como a alemã Makro, a espanhola Dia e a britânica Co-Op, a startup oferece uma solução digital que acompanha o tempo de vida dos produtos, através da combinação de uma base de dados, na qual são inseridas as datas de validade de todos os alimentos e de um sistema de IA, que identifica quando é que um produto está numa data crítica, tendo em conta indicadores como a procura e sazonalidade. "O objetivo é avaliar estas variáveis e ajustar o preço, resolvendo dois desafios: convencer o cliente de que aquele é um bom preço, sem destruir a margem ou a imagem da retalhista", explica Ricardo Salazar, country general manager da WhyWaste, em entrevista ao Dinheiro Vivo.
Apesar de ser um "trabalho contínuo" e de existir uma "grande curva de aprendizagem", os resultados são quase imediatos, assegura. "Com a informação certa, conseguimos compreender quais são os produtos que geram mais prejuízo e, por exemplo, ajustar as quantidades de produção." A integração da tecnologia da startup nas cadeias de supermercados passa, inicialmente, por um período de teste de dois a três meses, para que seja possível aplicar algumas medidas e compreender o comportamento dos consumidores. Depois desta fase, os administradores fazem uma avaliação do impacto e decidem se faz ou não sentido continuar com o serviço da WhyWaste. A garantia deixada pelo gestor é de uma redução de 40% a 60% da perda de produto por validade e de 90% do tempo dos colaboradores dedicados a esta função. ´
"Em Portugal, grande parte das redes de retalho alimentar recorrem a sistemas digitais estáticos, ou seja, programas que monitorizam a quantidade de produto, mas que não aprendem ou ajustam o seu comportamento e os preços de descontos utilizando dados", diz o responsável pelo negócio, notando que esta ferramenta dá ainda resposta ao facto de as empresas estarem cada vez mais viradas para as políticas de ESG (ambiente, social e governança empresarial), já que "impacta positivamente o ambiente, reduz o desperdício e gera mais receita com menos produto".
Atualmente em conversações com cadeias nacionais, a WhyWaste considera que o programa de aceleração da Unlimit (anteriormente Associação Acredita Portugal), bem como toda a interação com o sistema empreendedor português, vão contribuir para uma expansão mais rápida no país, sendo este um dos grandes objetivos para 2023.
Por terras lusitanas, a empresa pretende ainda contratar uma "estrutura sólida" e abrir um escritório em Lisboa para apoiar a futura equipa e clientes. Os planos ditam que a base na capital servirá como ponto de partida para os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP). Ao todo, são 40 os profissionais, distribuídos por escritórios em quatro países, que contribuem para o crescimento diário da startup.