Worldcoin mantém suspensão da recolha de dados da íris mesmo sem proibição

Empresa aguarda por aval da Comissão Nacional de Protecção de Dados, para uma posterior retoma da atividade em Portugal
André Rolo/Global Imagens
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A proibição de recolher dados biométricos da íris em Portugal terminou e a empresa que os recolhia, a Worldcoin, quer retomar a atividade num futuro próximo, mas decidiu aguardar por aval da Comissão Nacional de Protecção de Dados (CNPD).

"Neste momento não parece haver nenhum impedimento [para retomar a recolha de dados em Portugal] mas decidimos, proativamente, não voltar às operações até pelo menos termos algum 'feed-back' da CNPD sobre este processo, que ainda não tivemos", disse à Lusa Ricardo Macieira, diretor regional para a Europa da empresa Tools for Humanity, que criou a Worldcoin Foundation.

A empresa diz que continua à espera de ser recebida pela CNPD, para falar sobre a possibilidade de uma reabertura e demonstrar o compromisso em realizar um lançamento completo em Portugal num futuro próximo.

O diretor regional para a Europa esclareceu que a Worldcoin não compra dados biométricos da íris e que o que faz é criar uma rede de verificação da "humanidade" no acesso a plataformas digitais em que uma pessoa, de forma anónima, pode provar que é um utilizador humano e não um processo automático de acesso.

A recolha de imagens digitais da íris em troca de uma compensação em criptomoedas (uma moeda virtual usada na internet) começou há meses em vários países, mas atualmente na União Europeia o único mercado onde se mantém a recolha de dados da íris é na Alemanha, país onde a Tools for Humanity (TfH) tem um escritório local.

Após o lançamento global em julho de 2023, a autoridade de proteção de dados pessoais no estado alemão da Baviera (BayLDA), a autoridade líder competente responsável pela supervisão da conformidade com Worldcoin, abriu uma investigação cujos resultados ainda não foram publicados.

Em Portugal, a CNPD, seguindo a decisão da congénere espanhola, deliberou em 25 de março suspender por 90 dias a recolha de dados da íris, prazo já terminado, justificando esta decisão com denúncias sobre as condições de recolha dos dados, incluindo de menores, deficiências na informação prestada aos titulares e impossibilidade de apagar os dados ou revogar o consentimento.

Na ordem de limitação temporária da recolha de dados biométricos, a presidente da CNPD, Paula Meira Lourenço, escreveu tratar-se de uma medida indispensável e justificada para obter o efeito útil da defesa do interesse público na salvaguarda dos direitos fundamentais, sobretudo dos menores.

Nos últimos meses, a Worldcoin desenvolveu medidas de proteção da privacidade e segurança, para responder às preocupações das autoridades de proteção de dados, como controlos avançados para verificação da idade, a eliminação de códigos de íris antigos e a não verificação opcional World ID (incluindo a capacidade de eliminar códigos de íris).

A empresa explicou que o objetivo do prolongamento da pausa das operações é o de permitir à BayLDA o tempo para concluir a sua auditoria, um processo em que a Tools for Humanity diz participar na totalidade há mais de um ano, com o compromisso de não realizar operações até que o processo de consulta da BayLDA com outras autoridades de proteção de dados da UE seja concluído.

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