Enquanto a inteligência artificial dominava a Web Summit e os desmandos da Open AI orientavam os destinos de Silicon Valley, um grupo de programadores ocupou o estádio de Leiria para utilizar essa mesma tecnologia num concurso para desenvolver a melhor ferramenta possível.
A escala dos eventos não é, naturalmente, comparável. Mas a motivação é: quando seis dezenas de hackers passam um fim de semana a trabalhar em ferramentas de inteligência artificial para estimular o desenvolvimento de aplicações, isso representa uma profissão de fé no potencial transformador desta tecnologia. E embora a inteligência artificial seja o chamariz, o destaque maior vai mesmo para os requisitos de código aberto - para serem candidatos ao grande prémio de dez mil euros, o código dos projetos teve de ser colocado em repositórios públicos, e a ideia é que se mantenham lá para que toda a comunidade possa beneficiar dos mesmos.
Luís Soares, chefe de engenharia da empresa organizadora (a xgeeks), refere que a aposta no código aberto reflete "a dinâmica e a cultura da comunidade" que existe em Portugal e assume que, enquanto empresa que utiliza este tipo de produtos nas suas soluções comerciais, este tipo de iniciativas ajuda-os, "mas também ajuda a outros que utilizam estas bibliotecas e aplicações que estão disponíveis a toda a comunidade". E será de esperar que os próximos eventos continuem a afinar pelo mesmo tema, visto que tendem "a acompanhar as próprias dinâmicas do mercado e do cenário tecnológico e o ecossistema tecnológico será altamente influenciado pelas tendências de AI."
A geekathon serviu para provar que a descentralização pode ser uma realidade também na tecnologia, visto que reuniu um total de 64 participantes em disputa por vários prémios. O mais cobiçado era a tal bolsa de dez mil euros oferecida pela xgeeks e que consiste em serviços como orientação técnica, suporte ao desenvolvimento e acesso a ferramentas. Esta bolsa vai apoiar o desenvolvimento de repositórios com o fim de entrar para a Cloud Native Computing Foundation (CNCF), um movimento internacional que promove o paradigma de aplicações nativas em cloud. O objetivo é sustentar um ecossistema de projetos de código aberto que sejam neutros em relação aos fornecedores, de forma a democratizamos os padrões de última geração e facilitar o acesso à comunidade de programadores - facilitando adaptações aos projetos e o lançamento de aplicações em ambientes de cloud públicas, privadas e híbridas. O projeto vencedor chama-se Paipeliner, e é uma aplicação técnica para resolver problemas complexos no desenvolvimento de software.
Eugénio Santos, que fez parte da equipa com João Correia e João Silva, tem grandes expectativas para o futuro do projeto: "Acreditamos que várias empresas vão querer usar a nossa biblioteca para pouparem dinheiro, melhorarem a qualidade do seu código e crescer e, quem sabe até, tornarem-se sponsors do mesmo." E refere que "esta bolsa permite-nos olhar para o projeto a médio-longo prazo. Sendo o nosso foco identificar features prioritárias juntamente com empresas que sofrem com este desafio de grandes pipelines e que têm esta dor que o paipeliner pretende resolver."
Havia mais prémios em jogo: O de melhor projeto, que recebeu 1500 euros foi entregue à solução VisualChain, um editor visual simples que permite ao utilizador gerar código, que é depois explicado pela aplicação. Também agraciados foram aplicações para reportar incidentes e para criar testes unitários para linhas de código.
O evento teve o apoio da Câmara Municipal de Leiria e da StartupLeiria, bem como de empresas como a AWS e a Worten.diopgo