Xpeng: IA é o futuro da mobilidade nos veículos elétricos

Fabricante chinês de automóveis elétricos, incluindo um modelo voador, chega a Portugal com três propostas e objetivos de vendas até 2026. Brian Gu, presidente da Xpeng, esteve em Portugal e elogiou a cadeia logística automóvel e a mão-de-obra nacional.
Modelo G6 da marca chinesa, um dos três que serão vendidos em Portugal, e o modelo voador desenvolvido pela empresa. Foto: D.R.
Modelo G6 da marca chinesa, um dos três que serão vendidos em Portugal, e o modelo voador desenvolvido pela empresa. Foto: D.R.
Publicado a

Nenhum mercado parece ser demasiado pequeno para o fabricante de veículos elétricos, com sede em Guangzhou, na China, que espera vender três mil automóveis no nosso país até ao final de 2026.

A chegada da Xpeng a Portugal resulta de uma parceria com a Salvador Caetano Auto, grupo industrial luso que fará a distribuição em todo o território. Fundada em 2014 como startup, a Xpeng, empresa líder em mobilidade com recurso à Inteligência Artificial dedica-se à conceção, desenvolvimento, produção e comercialização de veículos elétricos inteligentes. Graças a estes e a outros produtos da marca - e ao consequente reconhecimento internacional alcançado - chamaram a atenção do Grupo Volkswagen que decidiu licenciar parte da sua tecnologia.

Chegados à fase em que cada vez passa menos tempo entre o aparecimento de novas marcas chinesas de veículos elétricos, quem sobreviverá? O mercado interno chinês já chegou a ter 480 marcas de automóveis elétricos, hoje restam cerca de dez por cento.

Brian Gu, presidente da Xpeng, acompanhado pela sua comitiva, viajou da China até Palmela para apresentar a marca ao mercado nacional. “É preciso demonstrar que se conseguem fazer projetos que são atrativos e respondem às maiores necessidades do mercado. É por isso que temos que apresentar produtos que estejam nos segmentos mais populares e direcionados para o maior número de pessoas”, explica o presidente em entrevista ao Dinheiro Vivo.

“Temos de ter um produto tecnologicamente diferenciado, não podemos ser apenas mais outra marca de veículos elétricos. Têm de ter características mais avançadas e inovadoras, como os que temos demonstrado aos clientes europeus”, acrescenta.

Ao longo de várias décadas, os fabricantes chineses de automóveis a combustão tentaram sem grande êxito entrar no mercado global. Mais recentemente, conseguiram inverter a marcha graças ao negócio dos veículos elétricos. “Qualquer mercado quer ter o melhor produto. Tenho que ter a certeza que o mercado é competitivo. Penso que a China ao avançar rapidamente e ao desenvolver-se com tanto sucesso permitiu gerar concorrência saudável com mais oferta e assim o consumidor ter mais opções. Na verdade, são eles que levam à evolução mais rápida da indústria”, sublinha Brian Gu.

O antigo banqueiro não tem dúvidas: “Só assim a Europa torna o seu mercado mais aberto, mais competitivo e dá ao consumidor a possibilidade de escolher as melhores alternativas. Isso vai ajudar quer na transição energética quer na mudança para veículos elétricos.”

Mas, a fixação de marcas como a Xpeng em Portugal (e também nos restantes países da União Europeia) está dependente de diversos fatores, entre eles a possível aplicação de taxas impostas por Bruxelas sobre veículos elétricos provenientes da China, após uma investigação aos subsídios concedidos por Pequim aos fabricantes.

Sendo um tema muito relevante, Brian Gu está a acompanhar a situação e a ver como se desenrola. “Estamos atentos à evolução das discussões entre os vários governos sobre a tabela de impostos. Do lado da empresa, não há muito mais que possa comentar sobre a discussão. Mas, não nos irá dissuadir da estratégia global e, obviamente, das aspirações que temos para a Europa”, diz Brian Gu.

A Xpeng tem “um compromisso de longo prazo” para o mercado europeu, em que acredita que a sua tecnologia e produtos líderes devem “ser bem-vindos e beneficiar os clientes na Europa, ajudando tanto em termos de transição energética como de mobilidade futura”.

“Queremos, sem dúvida, continuar a alimentar a nossa presença no mercado europeu, sermos competitivos e quando a situação dos impostos ficar mais clara agiremos em conformidade. Talvez ajustando algumas das nossas estratégias, a partir do preço e do modelo de negócio e, potencialmente, pensar em mais operações locais para enfrentar o problema.”

Só tendo esclarecida a situação dos impostos, a marca pensa com mais detalhe o desenvolvimento do negócio, não descartando eventuais planos para construir fábricas na Europa. “Estamos a olhar para todas as opções com potencial que nos poderão tornar competitivos neste mercado. Acreditamos que ter mais presença local também será importante para quando quisermos ser líderes de mercado neste continente. E ter a capacidade de produzir localmente é algo que temos que fazer. Como e quando ainda estamos a analisar.”

Haverá hipóteses de uma fábrica ou um hub tecnológico em solo nacional? Brian Gu responde: “Portugal tem uma série de mais-valias e isso é muito atrativo. Conhecemos Portugal através do nosso parceiro [Salvador Caetano Auto] e quanto mais sei sobre Portugal, mais entusiasmado fico. Acho que tem uma cadeia logística para o setor automóvel muito bem estabelecida, mão-de-obra muito eficiente, o que também oferece vantagens de custo face a outros países europeus. Sinto que é muito progressista, incluindo o Governo. Sem dúvida, vamos olhar para Portugal e ver se há uma oportunidade de investir e também fazer parte dos planos europeus.”

Brian Gu trabalhou durante duas décadas como banqueiro e consultor de investimentos financeiros, mas estava ansioso para construir “um negócio de verdade”. “Lidei com muitas empresas e com muitos negócios e vi um número substancial de empreendedores bem-sucedidos que construíram empresas de classe mundial na China. A certa altura, senti que gostaria de fazer parte desse processo e criar uma grande companhia. Foi por isso que decidi deixar a JP Morgan [empresa de serviços financeiros] e ingressar, em 2018, numa empresa muito pequena com apenas algumas centenas de pessoas. Estou muito animado que passados menos de sete anos temos um negócio global e uma marca líder mundial. É um processo realmente gratificante”, partilha o líder da Xpeng.

Dos três modelos de automóveis elétricos que irão ser comercializados, inicialmente em dois pontos de venda, um em Lisboa e outro no Porto, Rafael Monteiro, diretor de operações da Xpeng em Portugal, destaca o G6, “o modelo mais importante por estar no segmento com mais crescimento”. Trata-se de um SUV Coupé com autonomia de até 570 quilómetros, a começar nos 46 990 euros. Ao G6 junta-se o P7, um sedan desportivo de quatro portas, e o G9, um SUV para quem não abdica do luxo sobre rodas. A marca pretende abrir mais seis espaços no país até ao final do ano, incluindo os Açores.

Inovador é também o investimento da Xpeng em veículos voadores, como o X2 a rondar os 135 mil euros (150 mil dólares), cujo voo inaugural público realizou-se, em 2022, no Dubai. Em Palmela, um exemplar desta espécie de “carro voador” também se fez notar. “Terá de ser aprovado primeiro na China. É nisso que a empresa está focada e prevemos que o EVTOL seja disponibilizado aos clientes finais até 2026. Aliás, as pré-encomendas começam até ao final deste ano. Com a aprovação na China assegurada em dois anos, penso que seremos capazes de expandir também internacionalmente.”

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt