É consensual dizer que a tecnologia move o mundo. Já dizer que move grãos, massas e cereais não o era, até agora, que a startup portuguesa The Loop Company e a Loja do Zero se uniram para criar embalagens do futuro para o retalho a granel. Em causa estão os Zero Cups, frascos de plástico resistente, reutilizáveis para cima de cem vezes, que têm incorporado um sensor único capaz de armazenar não só toda a informação sobre o produto, como a data de validade e informações nutricionais, mas também do próprio recipiente, como a quantidade de vezes que já foi utilizado e indicadores de impacto ambiental, integrando todo um sistema digital e robotizado.
"A compra a granel é útil em termos ambientais, mas não é prática", diz Ricardo Morgado, cofundador da The Loop Company, em entrevista ao Dinheiro Vivo. Para simplificar a escolha de consumo, as empresas desenvolveram a solução, que assenta num modelo de e-commerce, permitindo aos clientes realizar encomendas a partir do conforto das suas casas, e num sistema automatizado de dispensadores que processam todo este pedido de forma rápida e instantânea. Será no final do mês de setembro que o projeto-piloto verá a luz do dia, nas instalações da Loja do Zero, em Lisboa.
"Quando alguém fizer uma encomenda, a Loja do Zero será notificada no sistema sobre os produtos e os cups pretendidos. Selecionando a encomenda, o sistema vai indicar ao operador onde ele tem de ir e com que cups. Depois, bastará aproximá-los dos dispensadores e estes irão completar automaticamente o restante processo, enchendo a quantidade exata de produto e passando toda a informação para o sensor, que poderá ser posteriormente consultada na despensa digital, através da leitura de um QRCode único". O sistema, afirma o responsável, permite otimizar tempo na preparação de encomendas, quando comparado ao processo manual, trazendo "escalabilidade aos negócios".
Os recipientes estarão disponíveis em cinco tamanhos diferentes, que terão um custo aproximado de um euro. "Esta não é uma solução pensada para ser cara, até porque conseguimos produzir a tecnologia de forma acessível, e o objetivo principal é que as pessoas a utilizem", refere Ricardo Morgado. Por cada embalagem, os consumidores só terão de pagar uma única vez. Após o consumo do produto, os frascos podem ser entregues para limpeza, de modo a serem reutilizados, e será creditado um Zero Cup na ficha do cliente. "Numa próxima encomenda, terá garantidamente uma embalagem reservada, pela qual já pagou".
A solução assume, ao momento, a forma de cups (frascos) para o retalho a granel, mas, no futuro, poderá vir a adotar boxes (caixas), bags (sacos) e bottles (garrafas) para dar resposta a outros setores, como o da restauração. "A iniciativa do governo de taxar as embalagens de uso único vai dar força a esta iniciativa", acredita Ricardo Morgado, adiantando que está em equação uma alternativa take-away para esse segmento. Sendo o plástico o "melhor material ao nível de reutilização", mas guiando-se a iniciativa conjunta pela premissa da sustentabilidade, o cofundador da startup diz já estar a ser trabalhada, junto de vários experts da área, uma embalagem de "plástico mais verde".
Por agora, "o objetivo é testar o produto para poder levá-lo mais além". Gigantes do retalho alimentar em Portugal, como a Auchan, já demonstraram interesse na implementação da tecnologia da joint-venture. Para casos como este, "podemos vir a adaptar o sistema para ser o próprio cliente a abastecer e limpar a sua cup". Ao todo, são 17 as pessoas que fazem parte do projeto, que já viu 80 mil euros investidos para posicionar o comércio a granel um passo à frente na sustentabilidade.