Zouri: Calçado vegan em pele de maçã chega em versão criança

Com solas fabricadas a partir de plástico dos oceanos, em dois anos, a Zouri já recolheu quatro toneladas nas praias portuguesas.
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O ano de 2020 marcou a abertura da primeira loja própria da Zouri, uma concept store no Centro Comercial Miguel Bombarda, no Porto, em parceria com quatro outras empreendedoras nortenhas cujas marcas partilham da mesma filosofia de sustentabilidade. Mas a pandemia não permitiu que o projeto tivesse a rentabilidade, ou visibilidade sequer, pretendida. Agora, com o retalho fechado e os portugueses confinados, a Zouri aposta em força no mercado digital. Em março chega a coleção de criança, que estará à venda exclusivamente na loja online da marca.

As sapatilhas da Zouri chegaram ao mercado em janeiro de 2019 e representam a vontade de Adriana Mano, escoteira e desde sempre ligada a movimentos de proteção ambiental, ajudar a mudar o mundo. As solas são produzidas em borracha natural e plástico recolhido das praias portuguesas, as palmilhas são feitas a partir de materiais reciclados e as gáspeas, a parte superior do sapato, com materiais naturais e biodegradáveis, como o algodão orgânico, linho ou cânhamo, ou biomateriais como o pinatex, um tecido à base de folhas de abacaxi, ou pele de maçã. Todos os materiais são vegan e certificados.

A linha de criança surge como a evolução natural da marca, sobretudo atendendo às ações de sensibilização que Adriana Mano faz nas escolas, procurando explicar às crianças e aos jovens que "o lixo pode ser matéria-prima".

Com tamanhos dos 28 ao 34, a Zouri criança chegará em versão sapatilha e sandálias. "Fazia todo o sentido, vamos arriscar", explica a jovem empreendedora, lembrando que fabricar um sapato de criança "custa quase tanto como um de adulto, mas o mercado não está disponível para pagar o mesmo preço". E daí a aposta, exclusiva, no online.

"Massificar a sustentabilidade" é o objetivo de Adriana Mano, mas este é um exercício de matemática "ingrato", dado que os materiais, mas sobretudo a mão-de-obra, 100% portuguesa, acabam por torná-los muito mais caros. "Falta consciência do consumidor sobre os custos reais. Tudo isto custa muito dinheiro e quem está na sustentabilidade abdica da sua margem para conseguir estar no mercado", diz Adriana. É verdade que o plástico recolhido nas praias não custa dinheiro, mas transportá-lo e transformá-lo custa muito. Fora as horas próprias a fazer a seleção, triagem e corte das cordas e do plástico recolhido em tamanho adequado à sua transformação. "Trazemos tudo a grosso, depois há todo o trabalho de puro ativismo para o preparar. Não é fácil, tem de haver aqui muita paixão. Quem está exclusivamente focado no lucro e na alta rentabilidade, nunca vai ver no negócio da sustentabilidade um bom negócio", defende.

Um par de sapatilhas da Zouri vai dos 99 aos 129 euros, consoante o modelo de corte baixo ou mais subidas, tipo bota. "Respeitar animais, pessoas, oceanos, praticar salários justos e regras de comércio justo e ter um preço "vendável" é um quebra-cabeças difícil. As pessoas têm de perceber que não estão a pagar mais caro, estão a pagar o preço justo por um sapato feito em Portugal e não no Vietname", explica, lamentando que o Estado não ajude. "Devia haver uma política fiscal diferenciada para o que é amigo do ambiente, que funcione como um incentivo ao consumidor para que prefira estes produtos", considera.

Em 2019, primeiro ano da marca, a Zouri teve vendas de 200 mil euros, valor que quase duplicou, o ano passado, para os 380 mil. Um crescimento muito impulsionado pela procura de agentes a quererem representar a marca lá fora. Conta já com revendedores na Alemanha, Bélgica, Noruega, Suécia, Finlândia e Dinamarca. "A covid-19 não ajudou nada o trabalho destas pessoas que andam na rua. É verdade que aspirávamos a chegar a um milhão de vendas no segundo ano, mas não conseguimos nem metade. Mas, atendendo à conjuntura, até tivemos bons resultados".

Para 2021, a aposta é em tentar duplicar vendas novamente, mas o grande desafio é crescer. "Somos duas pessoas a tempo inteiro, estamos em fase de contratação de uma terceira, mas já conseguimos validar o projeto, perceber que ele tem pernas para andar, agora precisamos de fazer crescer a equipa para o alavancar", frisa Adriana Mano.

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